Compartilhe

terça-feira, 24 de julho de 2012

UFMA NA SBPC: OS LOUROS SERÃO NOSSOS


Marcos Fábio Belo Matos*

Em 1995, quando da realização da 47ª Reunião Anual da SBPC, em São Luís, eu era aluno do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo da UFMA, lá pelo 5º período, em São Luís, e fiz essa reportagem para a disciplina do professor Moisés Matias. Ela nunca foi publicada. 

Hoje, às portas de uma nova Reunião da SBPC em São Luís, ela serve de registro do “clima” que tomou conta da UFMA, das expectativas e também da realidade da universidade na época, 17 anos atrás.

Para garantir maior fidelidade possível, foi deixado o texto como escrito, sem correções e sem adaptações à nova ortografia. Detalhe: ele foi digitado agora, porque na época usávamos ainda máquina de escrever...

“Depois da SBPC, a UFMA não será mais a mesma”. Esta frase, proferida pela professora Regina Luna, Vice-Reitora da UFMA e coordenadora da Comissão Organizadora da SBPC no Estado, já virou slogan de todos os entusiastas da Reunião, que não são poucos. Afinal de contas, nunca a universidade sediou um encontro de tão grandes proporções – em termos de estrutura, recursos, participantes, amplitude, importância nacional e internacional.

Para que o evento pudesse ser realizado, montou-se um verdadeiro pool de instituições e empresas: Governo do Estado, Prefeitura de São Luís, SEBRAE, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, CVRD, Alumar...Todos, é lógico, interessados alguma fatia da Reunião que satisfaça seus interesses específicos.  

O Estado precisa se desenvolver o mais depressa possível, encontrar saídas urgentes para as suas crises, sobretudo as sociais – analfabetismo, pobreza, devastação ambiental, conflitos agrários etc – e espera, com muita avidez, que a ciência possa apontar diretrizes para o seu norteamento. 

A Prefeitura de São Luís trabalha duro para deixar a cidade impecável, para bem recepcionar os turistas, apostando na ampliação do seu nome como cartão-postal do país. A classe empresarial (incluídas as empresas públicas, que têm fins lucrativos como todas as outras) espera, antes de tudo, realizar grandes negócios, entusiasmada pelos quase quinze mil participantes que, daqui a dias, estarão circulando pela ilha e consumindo. 

As indústrias almejam um ganho de tecnologia com o acesso a novas descobertas científicas e tecnológicas que serão expostas durante a Reunião. Algumas empresas se contentam com os lucros da prestação dos seus serviços, sobretudo as de turismo, que jogam todas as fichas na programação cultural e de visitas históricas. 

Nesse turbilhão de expectativas, entram os interesses da anfitriã do encontro, a Universidade Federal do Maranhão, que se preparou como ninguém para satisfazer a todas as exigências que uma Reunião de SBPC  impõe e espera que, depois do dia 14 de julho, data de encerramento, ela possa vislumbrar um processo irreversível de desenvolvimento científico e tecnológico. Para a UFMA, esta 47ª Reunião Anual da SBPC deve ser apenas um primeiro patamar.

Vivendo uma crise comum às instituições públicas de ensino superior no Brasil, a UFMA precisa deslanchar. Hoje, ela apresenta sérias dificuldades em todos os seus campos de atuação: ensino, pesquisa e extensão.

ENSINO E PESQUISA

Professores mal remunerados e insatisfeitos, constantes ameaças de greves de servidores, alunos desestimulados com os respectivos cursos, constantes reclamações de lideranças estudantis sobre as condições dos cursos, das oficinas e laboratórios, da qualidade das aulas, impossibilidade de contratação de novos professores, aposentadoria docente em demasia. 

O ensino na Universidade Federal do Maranhão se desenvolve a passos lentos, ameaçando parar aqui e ali, em alguns cursos, ou tomando proporções drásticas em outros, como aconteceu há pouco tempo com os alunos de Educação Física.

O quadro que se pode pintar da pesquisa na UFMA é menos agravante. Afinal, considerando que a universidade é recente (tem menos de trinta anos) e que a pesquisa é uma atividade que demanda tempo e investimentos substanciais, pode-se compreender porque os estudos e pesquisas têm números tão módicos, se comparados aos de outras instituições do país. 

Na área docente, o professor Tetsuo Tsuji identifica “ilhas de vontade” na ufma, professores que, apesar das adversidades, conseguem suprimir os entraves e levar adiante importantes projetos de pesquisa.

Sem incluir as pesquisas realizadas por professores que cursam pós-graduação, existem atualmente em andamento, de acordo com dados da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PPPG), sessenta e seis docentes com pesquisas. Quanto aos estudantes, para 1995 foram distribuídas 118 bolsas de iniciação científica, fornecidas pelo CNPQ. 

Este ano, com a SBPC, a UFMA ofertou mais quarenta bolsas, com os seus próprios recursos. No total, juntando-se as duas iniciativas, existem menos de 200 alunos realizando pesquisas com bolsas de iniciação científica.

Para quem quis pesquisar e não conseguiu as bolsas do CNPQ, a opção que restou foram os Programas Especiais de Treinamento (os conhecidos PET), onde são formados grupos de estudantes e, sob a orientação de um professor com título de pós-graduação (a partir de Mestre) são iniciados estudos para pesquisas posteriores. 

Na universidade existem quatro PET’s instalados (Direito, Biblioteconomia, Ciências Sociais e Biologia) num total de 42 bolsistas. Já foram encaminhadas propostas para a criação de mais cinco PET’s, nos cursos de Engenharia Elétrica, Química, Computação e nas áreas de Educação e Movimentos Sociais e Interdisciplinaridade). A decisão está nas mãos da CAPES, financiadora desses programas.

Na área de pós-graduação, com o funcionamento dos cursos de Mestrado, a abertura de vagas para pesquisadores é inexorável. Existem já alguns núcleos de pesquisa em atividade nos mestrados de Políticas Públicas e Educação. O que se encontra mais bem estruturado é o NUPP (Núcleo de Estudos em Políticas Públicas), que possui bolsistas de aperfeiçoamento trabalhando junto com os pesquisadores e financiados pelas bolsas do CNPQ.

VALORES E INVESTIMENTOS 

Os alunos “privilegiados”, que conseguiram bolsas de pesquisa, na verdade, têm pouco o que comemorar. Depois da aprovação do projeto (no caso do CNPQ) ou da escolha do nome para fazer parte do grupo de estudo (em se tratando de PET), eles iniciam uma dura jornada, enfrentando muitas dificuldades para a concretização das pesquisas. 

A maior delas, certamente, é a manutenção dos estudos com os valores mensais que os institutos de fomento repassam, às vezes em atraso. Para se ter uma idéia, um aluno bolsista do CNPQ tem que se virar com o “salário” de cerca de duzentos e cinqüenta reais. Valor idêntico recebem os do PET. Já aqueles mantidos com as bolsas da UFMA embolsam, redondos, cem reais todo  mês.  É tudo que recebe um aluno que se pretende pesquisador. 

Com esse dinheiro, tem ele que comprar livros, xerocar material, de apoio e fundamentação teórica, realizar toda a investigação de campo, comprar material e equipamento para as pesquisas, comprar passagem e garantir um ritmo frenético de estudos.

Os bolsistas de aperfeiçoamento – estudantes já graduados que atuam no Mestrado – recebem mais que os da iniciação científica. O valor mensal das bolsas é de, em média, quatrocentos e oitenta reais.

Todas as bolsas têm uma duração limitada. Em geral, não ultrapassam dois anos. Ao seu término, o aluno fica desamparado, mesmo se a pesquisa estiver em andamento. Os mais persistentes lutam e conseguem novas bolsas, na mesma instituição financiadora ou em outra. Aos que se resignam, resta procurar um emprego.

Além do CNPQ e da CAPES, outras instituições financiam pesquisas na UFMA, como a FINEP e a FAPEMA. Esta última, vinculada ao Governo do Estado, foi criada em 1990 e, para este ano, de todos os tipos de bolsa que oferece (iniciação científica, especialização, mestrado e doutorado) somente conseguiu liberar recursos para quarenta e cinco pesquisas, tanto para a  UFMA quanto para outras entidades.

É complicado falar em extensão na UFMA. O que deveria ser uma iniciativa precípua de todos os cursos, indistintamente – pois ela faz parte do conjunto de especificidades regimentais da universidade, dos seus objetivos essenciais – resume-se a projetos isolados, quase sempre na área das ciências sociais e levados a cabo com pouquíssimos recursos financeiros. A grande esperança da universidade é que a extensão ganhe um novo horizonte com a implantação do programa “Democratizando a Ciência”, implantado para ser uma atividade paralela à Reunião da SBPC.

ARRUMANDO A CASA

A UFMA não mediu esforços para porporcionar uma estrutura adequada à Reunião. Somente em construções de novos espaços, destinados a auditórios, salas de conferências, palestras e mesas-redondas; construções de passarela; reforma de todos os prédios já existentes foram gastos cerca de dois milhões de reais. 

Os outros investimentos foram custeados por parceiros da UFMA, como o Banco do Brasil, a CVRD, a CEF, a Alumar. Tanto gasto é justificado pela grandiosidade do evento. Nos dias da Reunião, perto de quinze mil pessoas vão estar circulando pelo Campus, visitando feiras e exposições, assistindo às sessenta e três palestras (entre conferências, simpósios e mesas-redondas) e acompanhando os quase 2.500 trabalhos que serão apresentados por pesquisadores. A universidade cuida criteriosamente dos mínimos detalhes. 

Tudo precisa, rigorosamente, dar certo.

Depois da reunião, quando sentar a poeira e voltar o cotidiano, a universidade deverá sentar à mesa para contabilizar os resultados imediatos e analisar as perspectivas daqueles a serem apurados a longo prazo. 

Claro é que não se pensa que, apenas com esta SBPC, vá se mudar uma realidade que se arrasta durante muito tempo. Há problemas crônicos que precisam ser sanados. A função da SBPC para a UFMA será a de sacudir os alicerces humanos da casa, despertá-la para a imediata resolução das dificuldades.

* Marcos Fábio Belo Matos é professor no curso de Comunicação/Jornalismo, no campus da UFMA de Imperatriz

Nenhum comentário: