Eliziane na tribuna contra João Castelo, mas ficou neutra na disputa eleitoral |
A eleição presidencial de 2014 serviu para enterrar a chance
de Marina Silva ser presidenta da República. Sem parentes importantes, vinda do
interior, sofrida na vida do seringal Bagaço, no Acre, Marina venceu na vida e
na política fazendo uma carreira brilhante.
Foi vitimada pelas armações dos adversários e pelos seus
próprios erros. O mais grave, depois de mudar de opinião várias vezes, foi o
apoio a Aécio Neves (PSDB).
Naquele momento, ela saiu do protagonismo para cumprir um
papel de coadjuvante na novela política brasileira.
Seu projeto de partido, a Rede Sustentabilidade, não saiu do
papel. E já rachou.
Mutatis mutandis,
o Maranhão tem uma réplica de Marina Silva. É a deputada federal eleita
Eliziane Gama (PPS).
Sem parentes importantes – uma regra para o sucesso na
política no Maranhão – Eliziane Gama elegeu-se deputada estadual em 2010 e
destacou-se em meio à miséria política da Assembleia Legislativa.
Para o cenário de 2014, Gama fez um acordo com Flávio Dino
(PCdoB). Ela abriu mão de disputar o governo em troca de um mandato de deputada
federal.
Esse acordo foi fundamental para consolidar a vitória
comunista no primeiro turno. É sabido que, se Eliziane entrasse na disputa,
haveria uma divisão no eleitorado oposicionista e a chance de segundo turno era
real – tudo que a oligarquia Sarney desejava.
A desistência de Eliziane foi um sucesso. Rendeu-lhe o
mandato de deputada federal com as urnas bombadas em mais de 100 mil votos,
colocando-a em primeiro lugar.
Ato contínuo à eleição, a campeã de votos declarou que seria
candidata à Prefeitura de São Luis em 2016 “com ou sem o apoio de Flávio Dino.”
Neutralidades
Ocorre que, tal qual Marina Silva, a deputada Eliziane Gama
ainda não tem um partido sob seu controle.
Ela deseja uma coisa, mas o PPS faz outra e pode até
inviabilizar sua candidatura a prefeita em 2016.
Sem o domínio sobre um partido, no qual ela possa tomar
decisões e encaminhá-las, o projeto da Prefeitura é sempre uma dúvida.
Esse foi um problema de Marina. Sem a Rede registrada,
buscou abrigo no PSB e virou coadjuvante.
Eliziane e Marina igualam-se também na posição de
“neutralidade”. Eliziane ficou em cima do muro em 2012, quando fez uma ótima
campanha para prefeita de São Luis, mas não se posicionou no segundo turno
entre João Castelo (PSDB) e Edivaldo Holanda Junior (PTC).
Marina, à época no PV, ficou “neutra” em 2010, no segundo
turno da disputa presidencial entre Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB).
Essas neutralidades acabam descredibilizando o político
diante do eleitor, que sempre está com gosto de sangue na boca.
Marina ficou marcada em 2014 pelas sucessivas mudanças de
opinião ao longo da campanha. Até tuitada do pastor Silas Malafaia a fez mudar
o programa de governo.
Ambas são evangélicas. Eliziane Gama também vai enfrentar
debates sobre homofobia, casamento gay, tolerância religiosa etc quando
disputar cargos majoritários.
Contrariedades
No cenário de 2016, o governador eleito Flávio Dino faz
todos os movimentos para reeleger o prefeito Edivaldo Holanda Junior (PTC).
Diante dessa firmeza do governador, Eliziane Gama vai negar
sua afirmação, de que será candidata “com ou sem o apoio de Flávio Dino”?
Ela manterá sua palavra ou mudará de opinião?
Até 2016 ela terá condições de controlar um partido para
viabilizar sua candidatura?
Se responder a estas perguntas até dezembro de 2015,
Eliziane Gama estará na disputa. Caso contrário, vai seguir no mandato de
deputada federal e tentar a reeleição em 2018.
De qualquer forma, ela terá de tomar uma decisão. Será
protagonista ou coadjuvante.
4 comentários:
Uma ótima análise. porém há pontos para uns petelecos. Sem dúvida é nossa marininha, embora mais leve. Só discordo quanto à questão do partido: ela tem o PPS na mão, na palma, balançando como se brinca com uma esfera de aço. O tabuleiro tá montado, mas só piões, ou talvez nem estes foram movidos.
Abs, herr professor!
Concordo que é a Marina leve, mas não tem o controle total do PPS da maneira que vc falou. Há muitos outros interesses nesse partido, que passam inclusive pela governabilidade administrada por Flavio Dino.
No texto, Marina é criticada por ter apoiado Aécio Neves em 2014 e é criticada também, no mesmo texto, pela neutralidade em 2010. Um pouco confuso, não?
Dois tiros certeiros. Um pela neutralidade e outro pela escolha tucana. Confusa é Marina, que ficou no muro uma vez e errou na outra.
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