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sábado, 31 de outubro de 2015

TAPUMES NA PRAÇA VALDELINO CÉCIO ATRAEM VIOLÊNCIA À PRAIA GRANDE

Atraso na obra foi justificada pela Subprefeitura do Centro Histórico
Tapumes estreitaram o trecho do Beco da Pacotilha entre as ruas do Giz e da Estrela
O empresário italiano Alessandro Bruge, proprietário da La Pizzeria e da pousada Portas da Amazônia, na Praia Grande (Reviver), foi assaltado por volta das 20h30, na esquina da rua do Giz com o Beco da Pacotilha. Durante o assalto, dia 21/out, o empresário sofreu agressões e chegou a usar muletas na sua recuperação. Bruge foi mais uma vítima dos constantes assaltos praticados no cruzamento das duas vias, margeando a praça Valdelino Cécio, isolada com tapumes desde junho/2015, para uma reforma que parou no início. 

Segundo o subprefeito do Centro Histórico, o turismólogo Fábio Henrique Farias Carvalho, a reforma foi interrompida porque havia indícios de desmoronamento de uma parte da estrutura da praça Valdelino Cécio sobre a contígua praça Nauro Machado. Para dar continuidade à obra, será necessário fazer uma muralha de contenção, a fim de garantir a qualidade do serviço. 

Os tapumes da praça criaram um ambiente ideal para assaltos no Beco da Pacotilha, porque estreitaram a via em um trecho sem policiamento fixo. “Fizeram uma armadilha para nós”, ilustrou Francisco das Chagas Oliveira Rego, proprietário do restaurante Dom Francisco, na rua do Giz, que já presenciou diversos assaltos no local. Pelo corredor dos tapumes no Beco da Pacotilha passam turistas, funcionários públicos e de restaurantes, estudantes da Aliança Francesa, comerciários e moradores que fazem o trajeto rua Grande/Terminal da Praia Grande. "Seis horas da tarde os malandros se concentram no corredor de tapume e assaltam quem vem da rua Grande para o terminal. Pelo menos nesse horário, deveria haver policiais", afirmou um comerciante que preferiu não se identificar.

O cyber Praia Grande, no Beco da Pacotilha, é um dos estabelecimentos mais prejudicados com os tapumes. Grávida de oito meses, a proprietária Daiane Oliveira disse que os clientes desapareceram desde que a praça Valdelino Cécio foi cercada. O cyber funcionava diariamente até 21 horas. Agora, fecha por volta das 18 horas por causa da falta de segurança. Espaço importante para atender aos turistas que precisam de serviços de impressão e internet, o empreendimento pode até falir. “O movimento caiu uns 50 por cento. Quem passa pelo corredor fica sem saída. O movimento aqui morreu. Vamos fechar as portas, pois estamos apenas pagando aluguel e energia sem retorno", lamentou Daiane Oliveira.

Área interna da praça, cercada pelos tapumes,
virou abrigo para assaltantes e traficantes
Se do lado de fora é perigoso, a área interna aos tapumes serve de abrigo para os assaltantes e usuários de drogas. "A Prefeitura colocou os tapumes e nem comunicou os moradores e empresários da área", denunciou a cabeleireira Rosalina Oliveira. Ela mantém um salão no Beco da Pacotilha, colado ao cyber e de frente à praça. Acuado pelos tapumes, o empreendimento especializado no estilo afrohair tem clientes de vários bairros de São Luís e atende turistas também. Além do problema da violência, a reforma não iniciada na praça teve outras críticas. "Uma amiga mineira, que gosta de São Luís, reclamou que as árvores da praça foram tiradas sem justificativa”, observou Rosalina Oliveira. “A Prefeitura tirou as árvores, que era o que tinha de mais bonito. É mais um prefeito que não gosta de árvore. Eles dizem que é por causa dos bandidos. Mas não se combate violência cortando árvores. Segurança se faz com competência", ensinou uma cliente do salão. "Reforma da Prefeitura e do Iphan é só para derrubar árvores", completou outra cliente da cabeleireira.

CONTRADIÇÕES E PROPOSTAS

Câmera de monitoramento, no cruzamento do Beco da Pacotilha
com a rua do Giz, não inibe os assaltos e o tráfico de drogas
Empresários da área questionam o investimento em divulgação de São Luís para atrair turistas, se não há segurança para o visitante em uma das principais referências de patrimônio histórico e arquitetônico do mundo. O resultado é que o turista assaltado ou inseguro sai falando mal e, com isso, o efeito multiplicador contra a imagem da cidade é devastador.

O problema da violência no Centro Histórico é antigo. Chegou a ficar insuportável, nos últimos 10 anos, quando as pessoas não podiam quase andar nas ruas ou ter sossego por causa de assaltos, pedintes e usuários de drogas. Houve melhoras logo no início no governo Flávio Dino, em 2015, a ponto de atrair empreendimentos ao local, a exemplo do café e restaurante Espaço Define, ao lado da nova sede da Fapema, na rua da Estrela. A diretora do Define, arquiteta Carla Veras, “paquerou” o casarão durante quatro anos e só efetivou o aluguel quando viu ações efetivas de segurança na área, principalmente a retirada dos usuários de drogas e o policiamento móvel no local. “Hoje está bem melhor”, classificou Veras.

Comerciantes e moradores da Praia Grande ouvidos pela reportagem têm um consenso: o policiamento em motocicletas é ineficiente porque passa rápido e não consegue demarcar território. O ideal, disseram os entrevistados, é a combinação de motos, postos fixos (trailler) e rondas a pés nos lugares estratégicos. Mesmo que essas providências sejam tomadas, alguns entraves, quase inexplicáveis, devem ser evitados. Um exemplo é a “armadilha” localizada exatamente na área onde o empresário italiano foi assaltado. Os tapumes isolaram a praça e deixaram aos pedestres uma pequena passagem estreita que está sendo chamada de “corredor da morte”, devido aos constantes assaltos.

O empresário Alessandro Bruge disse que a violência e a instabilidade social estão afastando os frequentadores da La Pizzeria, que já conquistou excelente conceito pela qualidade do atendimento e preços. Ele também administra a pousada Portas da Amazônia, em Belém. A esperança é que o italiano e outros empresários nativos não deixem de investir na Praia Grande por falta de iniciativa governamental. A falta de segurança afeta toda a cadeia produtiva do Centro Histórico. Bruge está no limite e às vezes pensa em fechar o negócio, depois de 13 anos instalado em São Luís. Atualmente, emprega 20 pessoas. Nos últimos 30 dias, ele computou cinco casos de assalto entre funcionários e clientes da pousada. “Os taxistas do aeroporto não querem transportar os turistas que chegam na madrugada e pedem corrida para a pousada Portas da Amazônia, na rua do Giz, porque temem assaltos”, observou. Na sua avaliação o turismo na capital não é atrativo, porque o Centro Histórico está abandonado e as praias, poluídas. Esse cenário atrai o visitante direto para os Lençóis Maranhenses e São Luís é apenas uma passagem.

PERSISTÊNCIA E AVANÇOS

Mesmo diante do problema da segurança, ainda há interesse dos empreendedores no Centro Histórico. O restaurante Dom Francisco, localizado na rua do Giz, vai diversificar os negócios, instalando um café, padaria e pizzaria. O espaço cultural Chico Discos, localizado na rua dos Afogados, está de mudança para o Centro Histórico. Dois novos prédios recém-inaugurados, na rua da Estrela, são importantes ações de ocupação do espaço na Praia Grande. Através do PAC Cidades Históricas, foram recuperados e já estão em funcionamento a nova sede da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapema) e o anexo do curso de História da UEMA. Na mesma rua, já funciona há vários anos o curso de Arquitetura da mesma instituição.

O PAC Cidades Históricas também está recuperando o casarão onde vai funcionar a Casa do Tambor de Crioula, na esquina do Beco da Pacotilha com a rua da Estrela, próximo à Câmara dos Vereadores. Essas iniciativas, ocupando a área com equipamentos culturais, instituições de ensino, serviços e comércio, ajudam a movimentar as ruas e dão vida ao Centro Histórico. O mesmo aconteceu com a recuperação da praça Nauro Machado, palco de shows e diversas outras atividades lúdicas, onde crianças, adultos e idosos podem usufruir e apreciar o espaço comum.

CÂMERAS SEM EFICÁCIA

A situação do Centro Histórico é complexa, há muitos vícios acumulados e novas ações ainda precisam ser feitas na área de segurança pública para que turistas e pessoas de São Luís, com seus filhos, sobrinhos e cachorrinhos de estimação possam fotografar o belíssimo patrimônio histórico da humanidade, com máquinas fotográficas ou celulares, sem o risco de serem surpreendidas por assaltantes.

O assalto a Alessandro Bruge aconteceu embaixo de uma câmera de videomonitoramento, que deveria ajudar na segurança, mas, segundo os comerciantes do local, não tem cumprido esse papel. É um equipamento que virou artigo de decoração e os assaltantes já perceberam essa ineficiência. Tanto que eles assaltam como se as câmeras não existissem.

Há 10 anos instalada na rua do Giz, a Aliança Francesa já teve redução de 30% dos alunos, segundo a diretora Morgane Mabit. “Estamos perdendo o público atual e o potencial”, declarou. Quando a noite cai, as ruas ficam escuras e desertas, pouco atrativas para o estudante que precisa se deslocar até o prédio, próximo aos tapumes da praça Valdelino Cécio. Segundo Mabit, o público preferencial da Aliança trabalha durante o dia e estuda francês à noite.

Veteranos comerciantes do Centro Histórico dizem o policiamento é mais presente quando uma autoridade faz rápida visita à Praia Grande. No dia-a-dia, os policiais desaparecem. “Alguns passam de moto, de vez em quando, e os bandidos, sabendo que eles só vão passar de novo depois de duas horas, assaltam sem problemas", afirmou um empresário. Há, também, críticas à Guarda Municipal. "Todo mundo sabe identificar quem é malandro, quem é turista e quem é morador. Só os guardas municipais não sabem", afirmou uma frequentadora da área.

Localizado em frente aos tapumes da praça Valdelino Cécio, o restaurante Crioula’s está no foco do problema. O gerente Junior Lima disse que a câmera de videomonitoramento não inibe os assaltos nem o tráfico de drogas. Na sua opinião, a volta das rondas policiais e do trailler da Polícia Militar, retirado da rua da Estrela, seriam fundamentais para intimidar os traficantes e assaltantes.

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