Reconhecido internacionalmente, Manoel é Doutor Honoris Causa, título concedido pela UFMA. Foto: Felipe Klamt |
Está em fase de "gestação" a biografia de Manoel da Conceição, líder camponês essencial na luta
pela reforma agrária, fundador do PT e símbolo da esquerda no Brasil.
A biografia é um
trabalho de fôlego do jornalista e historiador Adalberto Franklin, diretor da
editora Ética, sediada em Imperatriz.
O texto tem
links com a realidade maranhense e nordestina na metade do século passado,
questões agrárias, políticas e econômicas; história do MEB (Movimento de Educação
de Base) e da AP (Ação Popular); conjuntura anterior ao golpe de 64 e anos
iniciais do militarismo; resistências ao golpe; torturas, exílios etc, temas ligados à militância de Manoel da Conceição.
O lançamento
está previsto para junho de 2013. Adalberto Franklin pretende lançar uma edição
na Europa, em francês, em 2014, quando o Manoel fará 80 anos. O título será “Manoel
da Conceição, sobrevivente do Brasil”.
Veja um trecho
do primeiro capítulo: “A chacina da Copaíba”
"1957. COPAÍBA dos
Mesquitas, pequena povoação do município de Coroatá, no Maranhão. Uns vinte
lavradores do povoado e vizinhanças reuniam-se num salão rústico, de paredes de
taipa com cobertura de palhas de babaçu, à beira da estrada. Propriedade da
família Mesquita, era local de reuniões da comunidade. Possuía apenas as quatro
paredes, sem divisórias internas; aberturas na frente e fundos, sem portas; e
nas laterais, sem janelas.
No amplo salão,
sentados em tamboretes de madeira e couro e bancos de madeira lavrada,
discutiam acaloradamente as pressões e ameaças que vinham sofrendo de grandes
proprietários, fazendeiros residentes na cidade que pretendiam, a qualquer
custo, alargar o tamanho de suas terras através da expulsão das famílias
camponesas, inclusive as suas.
As terras da
região eram devolutas. Havia décadas, camponeses ali viviam, espalhados por
todo aquele território de centenas e centenas de léguas onde predominavam as
palmeiras de babaçu e contavam-se dezenas de rios perenes, abundantes em peixe.
Não muito distante, localiza-se o Lago Açu, o maior e mais piscoso lago do
Maranhão. As matas, nativas e inexploradas, eram abundantemente povoadas dos
mais diversos animais da fauna sertaneja, que serviam de reserva alimentar,
caçados apenas para alimento da família — desde a pequena paca até o caitetu e
a temida onça, grande felino que ameaçava tanto a vida humana quanto os animais
de criação."
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