Marcos Fabio *
No último dia 20, fui mais uma vez a um espetáculo da Companhia Okazajo. Estava em cena a oitava temporada da “TV Okazajo”, a montagem que celebrizou a trupe de Rogério Benício como representante do teatro de humor - aquele tipo de teatro que só nos pede que sentemos e soltemos os músculos dos lábios para mostrar os dentes.
Desde que cheguei a Imperatriz, há quase quatro anos, tenho visto os espetáculos da Okazajo. Já vi uns cinco ou seis, acho, talvez um pouco mais. Sempre fico com a melhor impressão das montagens. Os meninos e meninas se esforçam muito para nos proporcionar a melhor diversão: fazem um bom roteiro, cuidam do cenário, capricham nos recursos audiovisuais e na interpretação. É tudo muito bem feito, a despeito dos poucos recursos que caem no caixa por conta dos patrocínios que eles amealham do comércio local e dos pequenos erros, que eles vão tratando de incorporar, como gags, às suas falas (quase sempre) improvisadas.
Só por causa da persistência em fazer teatro por aqui, sem grandes incentivos financeiros e contando mais com garra que com dedicação profissional dos atores e atrizes (quase todos os componentes da companhia trabalham em outras ocupações para se manterem), já valia elogiá-los e lhes conceder todos os louros. Mas os espetáculos são mesmo bons, leves, divertidos. O que pode confirmar este fato são as plateias das montagens – a última teve todas as suas sessões lotadas; na que eu fui assistir havia cadeiras extras para comportar o público e parece que ficou gente do lado de fora...
A boa performance da Okazajo aponta para uma dupla feliz perspectiva. A primeira é a de que, ao contrário do que se pode pensar, há público para o teatro na cidade: jovens, estudantes, crianças, adultos, idosos; o público que atende ao chamado da Okazajo pode muito bem atender ao chamado de outras companhias. E já o faz, basta lembrar a premiada montagem, no fim do ano passado, de “Versos de Holanda”, um espetáculo do Grupo de Teatro da UFMA, a partir das letras de música de Chico Buarque, que fez boas casas, tanto nas noites em que se apresentou no auditório da UFMA quanto no teatro. E ainda o fato de que, imediatamente depois das apresentações da “TV Okazajo”, entraram em cena no Ferreira Gullar “Quasímodo” e “Entre o céu e o inferno”.
A segunda perspectiva é a de que o empresariado local, também ao contrário de julgamentos pessimistas, pode ser persuadido a investir algum quinhão na divulgação da sua marca em produções artísticas – uma ferramenta que o marketing cultural, em outros centros, já descobriu e aperfeiçoou. Os espetáculos da Okazajo têm sempre muitos anúncios e muitos agradecimentos logo após a peça. Talvez valha a pena, também, pensar em projetos de maior monta para apresentar a órgãos de fomento cultural, públicos e privados.
O que falta para melhorar a realidade do teatro por aqui é um incentivo maior do poder público e a convergência de outros lutadores aguerridos para investirem nessa arte. Ah, claro, e um teatro maior, pois a população cresce e precisa: “a gente não quer só comida”, né?
Fazer teatro é difícil em qualquer lugar do mundo. A dificuldade que a turma de empreendedores da Okazajo enfrenta é igual à de muitos outros Brasil afora, guardadas as devidas proporções. Mas, fundamentalmente, a Okazajo vai mostrando, a cada produção que põe em cena, que é possível (e necessário) perseverar. Fazer teatro, com muito ou com pouco, mas fazer com qualidade, prazer e envolvimento; esse é o maior mérito e o maior exemplo que nos dão Rogério, Wallace, Wanderson, Welton, Hennisson, Hailene, Thaísia, Rafael Pinto, Rafael Pirangi, Raul, Wesley, Renan, Elisângela, Marco Duallibe, Ana, Yago, Ingrid, Hellen, Evaldo – e um ou outro que eu tenha esquecido...
Vida longa à Okazajo e sua arte de fazer rir – porque, de fazer chorar, a própria vida já se encarrega...
* Marcos Fábio é jornalista, doutor em Comunicação e professor da UFMA, no campus de Imperatriz.