Marcos Fábio
Belo Matos*
Em 1995, quando
da realização da 47ª Reunião Anual da SBPC, em São Luís, eu era aluno do Curso
de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo da UFMA, lá pelo 5º período,
em São Luís, e fiz essa reportagem para a disciplina do professor Moisés
Matias. Ela nunca foi publicada.
Hoje, às portas de uma nova Reunião da SBPC em
São Luís, ela serve de registro do “clima” que tomou conta da UFMA, das
expectativas e também da realidade da universidade na época, 17 anos atrás.
Para garantir
maior fidelidade possível, foi deixado o texto como escrito, sem correções e
sem adaptações à nova ortografia. Detalhe: ele foi
digitado agora, porque na época usávamos ainda máquina de escrever...
“Depois da SBPC,
a UFMA não será mais a mesma”. Esta frase, proferida pela professora Regina
Luna, Vice-Reitora da UFMA e coordenadora da Comissão Organizadora da SBPC no
Estado, já virou slogan de todos os entusiastas da Reunião, que não são poucos.
Afinal de contas, nunca a universidade sediou um encontro de tão grandes proporções
– em termos de estrutura, recursos, participantes, amplitude, importância
nacional e internacional.
Para que o
evento pudesse ser realizado, montou-se um verdadeiro pool de instituições e
empresas: Governo do Estado, Prefeitura de São Luís, SEBRAE, Caixa Econômica
Federal, Banco do Brasil, CVRD, Alumar...Todos, é lógico, interessados alguma
fatia da Reunião que satisfaça seus interesses específicos.
O Estado precisa se desenvolver o mais
depressa possível, encontrar saídas urgentes para as suas crises, sobretudo as
sociais – analfabetismo, pobreza, devastação ambiental, conflitos agrários etc
– e espera, com muita avidez, que a ciência possa apontar diretrizes para o seu
norteamento.
A Prefeitura de São Luís
trabalha duro para deixar a cidade impecável, para bem recepcionar os turistas,
apostando na ampliação do seu nome como cartão-postal do país. A classe
empresarial (incluídas as empresas públicas, que têm fins lucrativos como todas
as outras) espera, antes de tudo, realizar grandes negócios, entusiasmada pelos
quase quinze mil participantes que, daqui a dias, estarão circulando pela ilha
e consumindo.
As indústrias almejam um ganho de tecnologia com o acesso a novas
descobertas científicas e tecnológicas que serão expostas durante a Reunião.
Algumas empresas se contentam com os lucros da prestação dos seus serviços,
sobretudo as de turismo, que jogam todas as fichas na programação cultural e de
visitas históricas.
Nesse turbilhão de expectativas, entram os interesses da
anfitriã do encontro, a Universidade Federal do Maranhão, que se preparou como
ninguém para satisfazer a todas as exigências que uma Reunião de SBPC impõe e espera que, depois do dia 14 de
julho, data de encerramento, ela possa vislumbrar um processo irreversível de
desenvolvimento científico e tecnológico. Para a UFMA, esta 47ª Reunião Anual
da SBPC deve ser apenas um primeiro patamar.
Vivendo uma
crise comum às instituições públicas de ensino superior no Brasil, a UFMA
precisa deslanchar. Hoje, ela apresenta sérias dificuldades em todos os seus
campos de atuação: ensino, pesquisa e extensão.
ENSINO E
PESQUISA
Professores mal remunerados e insatisfeitos, constantes ameaças de
greves de servidores, alunos desestimulados com os respectivos cursos,
constantes reclamações de lideranças estudantis sobre as condições dos cursos,
das oficinas e laboratórios, da qualidade das aulas, impossibilidade de
contratação de novos professores, aposentadoria docente em demasia.
O ensino na
Universidade Federal do Maranhão se desenvolve a passos lentos, ameaçando parar
aqui e ali, em alguns cursos, ou tomando proporções drásticas em outros, como
aconteceu há pouco tempo com os alunos de Educação Física.
O quadro que se
pode pintar da pesquisa na UFMA é menos agravante. Afinal, considerando que a
universidade é recente (tem menos de trinta anos) e que a pesquisa é uma
atividade que demanda tempo e investimentos substanciais, pode-se compreender
porque os estudos e pesquisas têm números tão módicos, se comparados aos de
outras instituições do país.
Na área docente, o professor Tetsuo Tsuji
identifica “ilhas de vontade” na ufma, professores que, apesar das
adversidades, conseguem suprimir os entraves e levar adiante importantes
projetos de pesquisa.
Sem incluir as
pesquisas realizadas por professores que cursam pós-graduação, existem
atualmente em andamento, de acordo com dados da Pró-Reitoria de Pesquisa e
Pós-Graduação (PPPG), sessenta e seis docentes com pesquisas. Quanto aos
estudantes, para 1995 foram distribuídas 118 bolsas de iniciação científica,
fornecidas pelo CNPQ.
Este ano, com a SBPC, a UFMA ofertou mais quarenta
bolsas, com os seus próprios recursos. No total, juntando-se as duas
iniciativas, existem menos de 200 alunos realizando pesquisas com bolsas de
iniciação científica.
Para quem quis
pesquisar e não conseguiu as bolsas do CNPQ, a opção que restou foram os
Programas Especiais de Treinamento (os conhecidos PET), onde são formados
grupos de estudantes e, sob a orientação de um professor com título de
pós-graduação (a partir de Mestre) são iniciados estudos para pesquisas
posteriores.
Na universidade existem quatro PET’s instalados (Direito,
Biblioteconomia, Ciências Sociais e Biologia) num total de 42 bolsistas. Já
foram encaminhadas propostas para a criação de mais cinco PET’s, nos cursos de Engenharia
Elétrica, Química, Computação e nas áreas de Educação e Movimentos Sociais e
Interdisciplinaridade). A decisão está nas mãos da CAPES, financiadora desses
programas.
Na área de
pós-graduação, com o funcionamento dos cursos de Mestrado, a abertura de vagas
para pesquisadores é inexorável. Existem já alguns núcleos de pesquisa em
atividade nos mestrados de Políticas Públicas e Educação. O que se encontra
mais bem estruturado é o NUPP (Núcleo de Estudos em Políticas Públicas), que
possui bolsistas de aperfeiçoamento trabalhando junto com os pesquisadores e
financiados pelas bolsas do CNPQ.
VALORES E
INVESTIMENTOS
Os alunos “privilegiados”, que conseguiram bolsas de pesquisa,
na verdade, têm pouco o que comemorar. Depois da aprovação do projeto (no caso
do CNPQ) ou da escolha do nome para fazer parte do grupo de estudo (em se
tratando de PET), eles iniciam uma dura jornada, enfrentando muitas
dificuldades para a concretização das pesquisas.
A maior delas, certamente, é a
manutenção dos estudos com os valores mensais que os institutos de fomento
repassam, às vezes em atraso. Para se ter uma idéia, um aluno bolsista do CNPQ
tem que se virar com o “salário” de cerca de duzentos e cinqüenta reais. Valor
idêntico recebem os do PET. Já aqueles mantidos com as bolsas da UFMA embolsam,
redondos, cem reais todo mês. É tudo que recebe um aluno que se pretende
pesquisador.
Com esse dinheiro, tem ele que comprar livros, xerocar material,
de apoio e fundamentação teórica, realizar toda a investigação de campo, comprar
material e equipamento para as pesquisas, comprar passagem e garantir um ritmo
frenético de estudos.
Os bolsistas de
aperfeiçoamento – estudantes já graduados que atuam no Mestrado – recebem mais
que os da iniciação científica. O valor mensal das bolsas é de, em média,
quatrocentos e oitenta reais.
Todas as bolsas
têm uma duração limitada. Em geral, não ultrapassam dois anos. Ao seu término,
o aluno fica desamparado, mesmo se a pesquisa estiver em andamento. Os mais
persistentes lutam e conseguem novas bolsas, na mesma instituição financiadora
ou em outra. Aos que se resignam, resta procurar um emprego.
Além do CNPQ e
da CAPES, outras instituições financiam pesquisas na UFMA, como a FINEP e a
FAPEMA. Esta última, vinculada ao Governo do Estado, foi criada em 1990 e, para
este ano, de todos os tipos de bolsa que oferece (iniciação científica,
especialização, mestrado e doutorado) somente conseguiu liberar recursos para
quarenta e cinco pesquisas, tanto para a
UFMA quanto para outras entidades.
É complicado
falar em extensão na UFMA. O que deveria ser uma iniciativa precípua de todos
os cursos, indistintamente – pois ela faz parte do conjunto de especificidades
regimentais da universidade, dos seus objetivos essenciais – resume-se a
projetos isolados, quase sempre na área das ciências sociais e levados a cabo
com pouquíssimos recursos financeiros. A grande esperança da universidade é que
a extensão ganhe um novo horizonte com a implantação do programa
“Democratizando a Ciência”, implantado para ser uma atividade paralela à
Reunião da SBPC.
ARRUMANDO A CASA
A UFMA não mediu esforços para porporcionar uma estrutura adequada à Reunião.
Somente em construções de novos espaços, destinados a auditórios, salas de
conferências, palestras e mesas-redondas; construções de passarela; reforma de
todos os prédios já existentes foram gastos cerca de dois milhões de reais.
Os
outros investimentos foram custeados por parceiros da UFMA, como o Banco do
Brasil, a CVRD, a CEF, a Alumar. Tanto gasto é justificado pela grandiosidade
do evento. Nos dias da Reunião, perto de quinze mil pessoas vão estar
circulando pelo Campus, visitando feiras e exposições, assistindo às sessenta e
três palestras (entre conferências, simpósios e mesas-redondas) e acompanhando
os quase 2.500 trabalhos que serão apresentados por pesquisadores. A
universidade cuida criteriosamente dos mínimos detalhes.
Tudo precisa,
rigorosamente, dar certo.
Depois da
reunião, quando sentar a poeira e voltar o cotidiano, a universidade deverá
sentar à mesa para contabilizar os resultados imediatos e analisar as
perspectivas daqueles a serem apurados a longo prazo.
Claro é que não se pensa
que, apenas com esta SBPC, vá se mudar uma realidade que se arrasta durante
muito tempo. Há problemas crônicos que precisam ser sanados. A função da SBPC
para a UFMA será a de sacudir os alicerces humanos da casa, despertá-la para a
imediata resolução das dificuldades.
* Marcos Fábio Belo Matos é professor no curso de Comunicação/Jornalismo,
no campus da UFMA de Imperatriz