Se cair uma chuva forte e o prédio da Câmara desabar, não
vai fazer qualquer falta aos moradores de São Luís.
A cidade está destruída pelas chuvas, sem ônibus, os
professores estão em greve e a quase totalidade dos vereadores não toma uma
iniciativa. Se fazem, não divulgam.
Grande parte dos bairros de São Luís não têm água encanada,
há esgotos estourados em toda a cidade, as escolas estão em situação de
calamidade, mas nenhum vereador faz um pronunciamento. Se falam, ninguém sabe.
Dos 31 eleitos, meia dúzia faz sentido. Não podemos
generalizar. Temos parlamentares bem intencionados, mas são minoria e sem poder
diante do esquema tradicional.
O resto não disse a que veio. Assim, a manutenção dos
vereadores é um enorme desperdício de dinheiro público.
PRIORIDADES PODRES
Enquanto a cidade é tomada por buracos e esgotos, fazem
festa os bichos escrotos, como diz a música dos Titãs.
A maioria dos vereadores só tem três preocupações:
1) A eleição do novo presidente da Câmara. Eles
querem inclusive antecipar a data do pleito, para que o eleito faça as
negociações financeiras com os candidatos a governador;
2) A construção da nova sede da Câmara, na Fábrica
das Artes, um espaço bucólico que poderia ser um grande centro cultural;
3) A aprovação de emendas no orçamento da
Prefeitura, sem projeto nem fiscalização dos milhões arrastados pelos
vereadores;
Na construção do novo prédio já anunciaram o gasto de R$ 40
milhões. Obviamente, o valor será dobrado ou triplicado até o final da obra,
com os famosos aditivos e coisa e tal.
Os moradores sem água, os motoristas sem rua, as pessoas sem
parque nem praças vão ter de financiar uns R$ 100 milhões para abrigar 31
vereadores, sendo a grande maioria inútil.
Repetindo a tradição das legislaturas anteriores, a maioria
esmagadora da Câmara é submissa ao prefeito.
O ex-líder do governo, vereador Honorato Fernandes (PT), é
ao mesmo tempo aliado do prefeito Edivaldo Holanda Junior (PTC) e da
governadora Roseana Sarney (PMDB).
Fernandes almoça com Edinho Lobão (PMDB) e se esfrega nos
aliados de Flavio Dino (PCdoB). Defende a oligarquia e a mudança. Só não
defende o povo de São Luis.
É um dos maiores exemplos da degeneração do PT.
CASOS DE POLÍCIA
A última notícia do Legislativo municipal foi sobre um
esquema de agiotagem generalizado, envolvendo parte dos vereadores e o Bradesco,
um banco que maltrata seus funcionários e clientes.
A casa é presidida pela quarta vez consecutiva por Isaías
Pereirinha, que reveza a cadeira com o colega Astro de Ogum.
Além das denúncias de agiotagem, vereadores também
frequentam o noticiário policial por outros motivos. Astro de Ogum já foi
vítima até de atentado a bomba e furto de joias e dinheiro em sua própria
residência.
Algo muito estranho. Com tanto banco para guardar dinheiro,
inclusive o Bradesco, o edil Ogum prefere entocar fortunas em dinheiro e ouro
dentro de casa!
Já o vereador Beto Castro (PRTB) é denunciado por crime de
falsidade ideológica, porque teria fraudado vários documentos: identidade, CPF
e título de eleitor.
As ações para cassar o mandato de Castro são movidas por
Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira (PRTB), o Carioca, que já esteve preso por
suposta posse sexual mediante fraude: ele teria praticado relação sexual com
uma menor de idade em troca de promessa de emprego.
O que São Luis ganha se Beto Castro for cassado e Carioca
assumir o mandato?
É lamentável que a Câmara, coletiva ou individualmente, só tenha
visibilidade quando ganha as páginas policiais.
OCUPAÇÃO PRODUTIVA
Um dos momentos produtivos do Legislativo foi a ocupação
realizada por estudantes e movimentos sociais, em julho de 2013, quando o
parlamento realmente teve algum sentido.
Durante a ocupação, foram realizados vários debates sobre
mobilidade urbana, regularização fundiária e transparência nas contas do
Legislativo.
Os ocupantes não só debateram como fizeram propostas
concretas para a cidade, mas foram massacrados pela mídia e impedidos de
participar dos debates com os vereadores - a tribuna popular - onde apresentariam as propostas.
Depois da ocupação, a Câmara voltou ao normal. Ficou desocupada
e não serve para quase nada.
Se São Pedro for generoso, coloca uma nuvem pesada sobre o
prédio e manda derrubar água, demolindo tudo.
Quem sabe, ficando ao relento, sem teto, os vereadores
juntam-se às dores do povo e resolvem fazer alguma coisa pela cidade.