O debate sobre o programa Mais Médicos deve ser posto no seu
devido lugar: o confronto entre os interesses público e privado que atravessa o
campo da Saúde no Brasil.
Nesse contexto, os médicos distribuem-se em pelo menos três
situações:
1) os mercenários e gananciosos que fazem da profissão um negócio
altamente lucrativo;
2) os operadores da saúde-negócio, que priorizam os
hospitais privados e os consultórios;
3) os plantonistas híbridos e múltiplos
que, para manter um padrão de classe média, desdobram-se em jornadas de
trabalho excessivas.
Há também os abnegados, cuja dedicação aos hospitais
públicos é quase um sacerdócio.
Observa-se, também, uma contradição: o governo que criou o
Mais Médicos, sob o argumento de que teria um maior número de profissionais na
rede pública, é o mesmo que impôs a Ebserh aos hospitais universitários,
pavimentando-lhes o caminho da privatização.
MÍDIA E MÉDICOS
A situação empresarial e laboral dos médicos ganhou
visibilidade midiática após as gigantescas manifestações de junho de 2013.
Pressionado pela voz das ruas, o governo Dilma Roussef (PT) tomou algumas
medidas de impacto para atenuar a tensão social.
Sem qualquer planejamento, o programa Mais Médicos foi um
bordão publicitário criado pelos marqueteiros petistas para acalmar o povo nas
ruas. Porém, de nada adianta contratar mais profissionais de Medicina se os
hospitais e postos de saúde estiverem sem estrutura, equipamentos e remédios.
Diante desse contraste, o Mais Médicos já começa a fazer
baixas, acusando uma dupla derrota para o governo: não agradou nem aos médicos
e nem à população!
Os médicos reagiram com gosto de sangue na boca, porque a
vinda dos estrangeiros expôs os brasileiros a uma concorrência, digamos,
agressiva!
O TRABALHADOR MÉDICO
Acostumados a exibir um status de profissionais bem pagos, com
chances de enriquecimento ainda na juventude, os médicos brasileiros de início
de carreira tiveram de passar pela humilhação de reduzir o faturamento mensal a
R$ 10 mil.
O encolhimento do dinheiro abalou a imponência e a
arrogância da maioria dos profissionais de branco, cuja pose de elite foi
arrastada para a vala comum dos baixos salários.
De repente, a corporação médica elitizada viu-se rebaixada à
incômoda exposição pública de uma categoria sociológica com a qual não estavam
acostumados – a de trabalhador.
A condição de se sentir trabalhador mal pago e a exposição
midiática de uma situação rebaixada, se comparada ao status de antes,
provocaram a reação irada dos médicos brasileiros contra o governo.
É importante registrar que nem todos os médicos buscam
apenas enriquecer rapidamente na Medicina privada e nas prefeituras, onde
costumam rejeitar salários elevados ou aceitá-los em troca de poucos dias de
trabalho ou de promissoras carreiras políticas.
Há bons e dedicados profissionais trabalhando arduamente nos
hospitais públicos e nas prefeituras, em jornadas excessivas, com precárias condições de
infra-estrutura e sem equipamentos. Alguns são verdadeiros heróis!
NO SOCORRÃO E NA UNIMED
Uma combinação explosiva de corrupção e hierarquia de
interesses sempre colocou a Saúde pública em segundo ou terceiro plano no
Brasil.
Do desvio das AIHs (Autorização para Internação Hospitalar)
até a corrupção deslavada nos hemocentros, o campo da Saúde é perpassado por
corrupção.
As condutas abusivas são evidentes não só nos hospitais
públicos. Na Medicina privada os escândalos podem ser ainda maiores, a exemplo
do colapso da Unimed no Maranhão.
A Unimed expõe à humilhação milhares de contribuintes que
passaram até 17 anos financiando uma elite de médicos, acreditando em um
serviço pago, caro, e são relegados ao mais vil dos tratamentos.
Além da falta de cumprimento do contrato, a Unimed trata com
total desrespeito o juramento de Hipócrates, algo que deveria ser sagrado à
profissão de médico.
Ao deixar milhares de contribuintes sem atendimento, a
Unimed faz pouca diferença em relação ao Socorrão, que mais parece um hospital
de guerra.
Por fim, o programa Mais Médicos, feito a toque de caixa
pelo governo Dilma, não resolve o problema maior na Saúde: a corrupção!
Cada vez mais aliada e dependente dos setores corruptos, do
PMDB, do PT e aliados, Dilma faz da Saúde uma jogada de marketing perigosa, que
pode ser viral, para o bem ou para o mal.
Por fim, um ensinamento antigo, já repetido outras vezes: não
se faz política saudável em aliança com gente que desvia dinheiro dos
hospitais, da merenda escolar e das escolas. Isso deveria ser crime hediondo!
A corrupção é a doença incurável da política.