Em novembro de 2013 o PT vai compor os novos diretórios
municipais, estaduais e o nacional, através do Processo de Eleições Diretas
(PED). No Maranhão, quem ganhar o PED vai ter força para definir os rumos do
partido em 2014.
Tido como referência de democracia interna, o PED virou uma
gincana de aliciamento dos filiados, para ser generoso nas qualificações.
Candidato a presidente do diretório estadual, Luis Henrique
Sousa divulgou um manifesto (leia abaixo) no qual anuncia a criação de um novo
grupo no partido, o PT PARA TODOS, ainda ligado à CNB Nacional (leia-se Lula,
Dilma e José Dirceu).
Apesar das ligações à CNB Nacional, na planície maranhense
Henrique se distancia do vice-governador Washington Oliveira (WO), o agente de
José Sarney no PT.
Henrique é o chefe de gabinete do deputado estadual Zé
Carlos. O plano é fazer o primeiro presidente do PT e o segundo deputado
federal, indo de encontro ao projeto do vice-governador.
WO quer manter o controle do PT para negociar novamente o
apoio à oligarquia Sarney e já pediu à governadora Roseana Sarney (PMDB) o
cargo de conselheiro do TCE.
Desmoralizado em todas as instâncias, WO teme que Zé Carlos
e Henrique controlem o PT e passem a ser os interlocutores junto à direção
nacional do partido.
Durante a eleição municipal de 2012, enquanto WO perambulava
pelas ruas de São Luís mendigando votos, Zé Carlos e Henrique percorriam as
bases do PT no interior do Maranhão, dando assistência e estrutura a dezenas de
candidatos petistas.
Resultado: WO saiu humilhado das urnas em São Luís e o
gabinete de Zé Carlos, com a articulação de Henrique, dominou as bases
anteriormente controladas pelo vice-governador.
Em que pese o atrito com Washington Oliveira, a candidatura
de Henrique a presidente do PT tem dois problemas: o deputado Zé Carlos é da
base de Roseana Sarney (PMDB) e o grupo PT PARA TODOS mantém alinhamento à CNB
Nacional, a tendência majoritária que obrigou o PT do Maranhão a uma aliança
com o PMDB de José Sarney em 2010.
Se o deputado Zé Carlos não romper com Roseana Sarney, pouca
coisa muda no cenário do PT em 2014.
Além disso, uma eventual vitória de Henrique no diretório
estadual não é garantia de que o PT vá implodir a relação com o PMDB.
Henrique vai manter fidelidade à CNB Nacional, que prefere
repetir a aliança com o PMDB no Maranhão, ou vai pregar aliança com Flavio Dino
(PCdoB), desagradando Lula e Dilma?
Não muda muita coisa trocar a direção do PT sem mudar a
estratégia para mudar o Maranhão.
VEJA ABAIXO A CARTA DE HENRIQUE
PT PARA TODOS
por Luís HENRIQUE Sousa, dirigente e militante do PT,
jornalista e assessor parlamentar
Em 2013 o PT faz 33 anos. Em 2013, pessoalmente, incorporo
25 anos de militância no Partido dos Trabalhadores, primeiro e único em minha
vida. A atual conjuntura me exige a tomada de posições e decisões difíceis.
Depois de 20 anos,
desligo-me organicamente do grupo interno a que pertencia até então, comandado
pelo companheiro vice-governador Washington Luiz, por concluir e entender
que:outro caminho é possível.
Seguem comigo na busca deste outro caminho, muitos
companheiros da CNB. Outros queridos e nobres parceiros de ideais e de estrada
ficam com o grupamento de origem, sem que por eles, pessoalmente, não continue
a ter o mesmo respeito e carinho. Na política, como na vida, em determinadas
circunstâncias, temos que fazer opções.
Há muito que não encontrava mais ambiente no campo que por
tanto tempo segui e militei no plano local. Creio que o PED de 2013 fechará um
ciclo no PT. É chegada a hora, mais do que na hora, de acabarmos com a
intolerância no partido. Creio ser findo o tempo das duas grandes árvores que
nos representaram nos últimos 20 anos, uma capitaneada pelo companheiro
Washington e a outra pelo companheiro Dutra.
O PT precisa reencontrar seu caminho histórico, na sua
essência um partido plural, de seus vários grupamentos a pregar variáveis
políticas distintas; contudo, com a mesma matriz ideológica. Um partido
enriquecido pelo debate interno, capaz de construir diretriz política e
partidária diferenciada, democrática e popular, cuja inclusão se manifesta
não só nas políticas públicas que adota, mas a partir do protagonismo e
exercício do povo no fazer político; com pontuações programáticas e políticas
divergentes, todavia, com unidade na ação.
Tempo de enterrar o maniqueísmo que nos aprisionou durante
duas décadas de uma disputa interna que nos fez dialogar mais com os partidos e
interesses de fora do PT do que com os companheiros do partido e os interesses
do próprio PT.
Ao afirmar o que digo, o faço sem me eximir de culpa e
responsabilidade. Participei disso, ajudei a construir o que nos tornamos. Não
há erro de um, há erros de muitos, quem sabe de todos.
No plano nacional, continuo integrado a CNB, agora na
personificação do coletivo PT PARA TODOS, grupamento oficializado internamente
na reunião da tendência em São Paulo, nos dias 25 e 26 de Janeiro de 2013. Um
coletivo que nasce em 79 diretórios municipais - adesão de 53 vereadores e 03
prefeitos petistas, dos 10 eleitos pelo partido. O coletivo conta ainda com a
presença do líder do PT na Assembleia Legislativa do Estado, o Deputado Zé
Carlos do PT e de 87 lideranças petistas, entre filiados e militantes.
Nascemos na perspectiva de consolidar o que afirmamos na
denominação: UM PT PARA TODOS. Com disposição para ajudar na construção de um
projeto próprio para o partido, sem que tenhamos que nos reduzir a ser apêndice
de campo político A ou campo B; a cumprir um plano de ação e metas que vise a
ocupação dos espaços institucionais, vereança, prefeitura de São Luís,
prefeituras do Maranhão e Governo do Estado; por que não?
Em resumo, focar na busca da hegemonia política no Maranhão,
ou, no mínimo, ser alternativa viável, a exemplo do que em outros estados o PT
já conseguiu, como é o caso do Piauí, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Sergipe,
Acre, Pará e Bahia, só para ficar em alguns da região Norte e Nordeste.
Para que esse intento seja factível, é necessária a
disposição para o diálogo interno, construir este objetivo comum com as demais
tendências do PT; caminho necessário para o nosso partido e para o povo, razão
maior das nossas vidas, enquanto militantes de esquerda.
Que sejamos capazes de dialogar com as forças políticas da
base de apoio do governo Dilma, principalmente e prioritariamente com as forças
de esquerda; contudo, sem subserviência ou conveniências de uns poucos. Um PT
altivo, um PT soberano.
A partir de março, iniciaremos a vida orgânica do coletivo
PT PARA TODOS em um grande seminário estadual e daremos ciência dos nossos
passos à militância petista. Ciência das nossas decisões mais importantes, da
inserção e visão que temos e como pretendemos interferir na conjuntura política
local e nacional.
Outro caminho é possível, Um PT PARA TODOS E TODAS. Todos os
petistas, todos os maranhenses, todos os brasileiros.