Formado por professores, técnicos e alunos, o Movimento UFMA
Democrática (MUDe) propõe uma nova gestão universitária, baseada no diálogo e
visando à construção de uma plataforma de desenvolvimento para o Maranhão,
através da articulação entre ensino, pesquisa e extensão.
Os nomes apresentados pelo MUDe são: Antônio Gonçalves, do
Departamento de Medicina II, para reitor, e Marise Marçalina, do Departamento
de Educação I, para vice-reitora.
Com críticas ao “estilo centralizador e autoritário da atual
gestão, a falta de debate político e principalmente de transparência na gestão
pública”, o MUDe apresenta nesta entrevista as suas principais diretrizes para
democratizar a UFMA.
O lançamento oficial da campanha do MUDe será dia 12 de março,
às 17h, na Área de Vivência do campus do Bacanga.
Veja a entrevista:
Blogue – Como surgiu e quem participa do MUDe?
Coordenação do MUDe – O Movimento UFMA Democrática surge no
segundo semestre do ano passado, mas sua construção vem sendo alinhavada há
três anos, quando alguns professores e professoras passaram a se reunir para
discutir a situação da UFMA, especialmente como têm-se dado os processos
decisórios nos diferentes Conselhos, a expansão sem o devido planejamento,
ocorrida nos últimos anos, e qual UFMA queremos. O MUDe é um coletivo formado por
docentes, técnicos e alunos, reunidos em um movimento de democratização da
UFMA.
Blogue – Quais os objetivos do Movimento UFMA Democrática?
Coordenação do MUDe – Construir um projeto de Universidade
que tenha como princípio a democratização das estruturas de poder no âmbito da
UFMA, rumo a uma expansão qualitativa da Universidade que garanta o princípio
da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Blogue - Existe alinhamento ou predominância de partidos
políticos e sindicatos no MUDe?
Coordenação do MUDe – Não, embora no grupo haja militantes
de diversos partidos de esquerda. O que nos aglutina é o desejo de construção
de uma universidade pública que prime pela democracia interna, lute contra
todas as formas de privatização e de precarização do trabalho e busque formar
profissionais engajados na superação dos diversos problemas sociais enfrentados
pela população do Maranhão.
Blogue - Como o MUDe avalia a atual gestão da UFMA?
Coordenação do MUDe – Temos sérias críticas ao estilo
centralizador e autoritário da atual gestão, a falta de debate político e
principalmente de transparência na gestão pública. Essas características,
aliadas à ausência de um projeto acadêmico, acabaram por encaminhar a Instituição
a um distanciamento dos reais problemas do Estado e da região.
Blogue – O que seria necessário fazer para superar as
críticas levantadas pelo MUDe sobre a gestão da UFMA?
Coordenação do MUDe – Investir fortemente no diálogo e
debate permanentes com todos os segmentos (docentes, discentes e técnicos), por
meio de fóruns com dinâmicas que permitam o acompanhamento dos planos e
projetos que iremos executar, de modo que as decisões entrem em consonância com
as pautas desses diversos segmentos. Pretendemos também aproximar a Instituição
dos movimentos sociais e dos poderes públicos estadual e municipais, para
debater a inserção da UFMA no desenvolvimento do Estado, a partir de convênios
que possibilitem uma efetiva colaboração interinstitucional.
Blogue – A UFMA inaugurou muitas obras nos campi de São Luís
e do continente e outras estão em andamento. O canteiro de obras reflete o
crescimento da instituição?
Coordenação do MUDe – Em termos quantitativos, de certa
forma reflete, sim. Porém, pode-se dizer que ainda temos um programa inacabado,
pois a ausência de um projeto acadêmico levou a atual administração a ampliar
prédios e a adquirir equipamentos de forma desordenada. O impacto disso se vê
ora nos prédios ainda em construção, ora no aguardo de infraestrutura adequada
para recepção de novos cursos e alunos, como a instalação de laboratórios,
bibliotecas, restaurantes etc. O traço do “inconcluso” fica mais evidente nos
novos campi do continente, que são diretamente afetados pelas condições
improvisadas e precárias de funcionamento.
Com essa política, a UFMA por vezes tem deixado de atender
às prioridades de algumas áreas e setores, para atender a pedidos de aliados.
Isso contribui para a promoção de disputas e cisões, hierarquização entre
áreas, corroendo as relações intrainstitucionais.
Nosso objetivo é reverter esse contexto, restabelecendo o
diálogo, construindo participativamente um projeto de UFMA, estimulando a
comunidade universitária a deliberar sobre os rumos da Instituição, por meio
dos colegiados e entidades representativas.
Blogue – Qual a proposta do MUDe para articular ensino,
pesquisa e extensão?
Coordenação do MUDe – Para o MUDE, ensino, pesquisa e
extensão são indissociáveis. A pesquisa se constitui em processo de geração de
novos conhecimentos e saberes que permitem questionar a realidade e refletir
teoricamente caminhos para pensar problemas. A extensão, por sua vez, articula
o ensino e a pesquisa e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade
e a sociedade, a partir de ações concretas e pontuais que possibilitem à
comunidade viver mudanças, a curto e médio prazos. O MUDe considera que o ato
de ensinar consubstanciado na pesquisa e na extensão universitária potencializa
o aprendizado e contribui para ampliar a visão crítica dos alunos e professores
e aproxima a Universidade da sociedade.
Assim, nós que constituímos o MUDe estamos convencidos de
que é preciso promover um amplo debate sobre o fortalecimento da função social
da UFMA com a comunidade acadêmica e segmentos sociais, que são ao mesmo tempo
o público e os parceiros das ações de extensão.
Pretendemos, ainda, viabilizar a inserção da extensão
universitária nos documentos, tais como: o Plano Estratégico de Desenvolvimento
Institucional-PEDI; o Plano de Desenvolvimento Institucional-PDI; o Projeto Político-Pedagógico
da Instituição-PPPI e os Projetos Pedagógicos de Curso-PPC, formalizando
institucionalmente a extensão universitária numa concepção crítica, integrada
ao ensino e à pesquisa, a partir de um processo interdisciplinar, educativo,
cultural, científico e político que promova a interação transformadora entre
Universidade e outros setores da sociedade, atendendo ao Plano Nacional de
Extensão Universitária. Com isso, pretendemos garantir flexibilização
curricular e possibilidades reais de financiamento de programas, projetos,
cursos e eventos de extensão em 100% dos cursos de graduação de todos os campi,
visando à participação efetiva de estudantes em atividades extensionistas.
Blogue – De que maneira pretende conectar o conhecimento
científico da UFMA a uma plataforma de desenvolvimento para o Maranhão?
Coordenação do MUDe – Através de um amplo debate com o
Estado e a sociedade civil. O MUDe avalia que urge viabilizar canais de diálogo
com a sociedade e com o Estado para que a produção acadêmica possa ter maior
ressonância. Consideramos que há um vasto acervo de conhecimentos produzidos
nos vários cursos de graduação e nos Programas de Pós-Graduação que poderiam
ser potencializados no debate sobre os problemas do Maranhão, mas de forma
orgânica, integrada e com ampla participação dos segmentos sociais.
Blogue – Diante do crescimento do número de alunos,
observa-se o aumento da demanda na assistência estudantil. Qual a proposta do
movimento para essa área?
Coordenação do MUDe – Integrantes do MUDe têm uma proposta
construída com os alunos que residem na moradia estudantil e que integraram no
ano passado a luta pela ocupação dessa residência, em contraposição à atitude do
reitor de se recusar a entregar o prédio para atender a essa finalidade. O MUDe
considera importante ampliar o debate, envolvendo a sociedade, para que o
problema seja definitivamente sanado. Proposta semelhante também está sendo
pensada para os campi da UFMA em diversos municípios maranhenses.
A situação da assistência estudantil também explicita a
total falta de planejamento da atual gestão, uma vez que executa as políticas
oficiais sem qualquer debate ou adaptação à realidade da UFMA e do Maranhão como
um todo, criando uma expansão sem qualidade social, já que, sem condições de
sobrevivência e de estudo, muitos alunos não conseguem permanecer na Instituição.
Então, quando falamos de assistência estudantil não falamos somente de
restaurantes e moradias, que são fundamentais, sem dúvida, mas também de
bibliotecas, laboratórios de informática, acesso à cultura, ou seja, elementos
que contribuam para a formação integral do aluno.
Blogue – Como serão tratadas as comunidades circunvizinhas à
UFMA em São Luís e nos campi do continente?
Coordenação do MUDe – Há tempos a UFMA se fechou ao debate
com as comunidades circunvizinhas, principalmente após os conflitos criados com
a comunidade do Sá Viana. É necessário reabrir o diálogo e trazer para o
conjunto da Universidade as questões postas por essas comunidades para serem
amplamente discutidas. E no decorrer da atual gestão não foi diferente, pois a
relação da UFMA com os bairros do seu entorno se dá a partir de ações pontuais,
desenvolvidas em projetos isolados, que, embora coordenados por professores
comprometidos com essa população, não resultam de planejamento institucional
colaborativo, que situe a comunidade como parceira em um processo de
desenvolvimento da área Itaqui-Bacanga.
Citamos dois exemplos: um deles diz respeito à educação
infantil nas escolas comunitárias, mas que em relação a elas a UFMA não
desenvolve nenhum programa especial de formação de professores, tendo a maioria
destes que estudar em instituições privadas, ou na UEMA, mesmo morando a poucos
metros da UFMA; outro caso é o não compromisso da UFMA em auxiliar as
comunidades a garantir a posse da terra, pois muitos moradores receberam lotes
da UFMA e não conseguiram a legalização deles até os dias de hoje.
Blogue – Qual a proposta do MUDe para os colégios de
aplicação, a exemplo do Colégio Universitário?
Coordenação do MUDe – O método do MUDe para a construção das
propostas será através de um fórum envolvendo todos os segmentos da
Universidade. Assim também será no Colégio Universitário-COLUN, que superou uma
traumática intervenção por parte da administração superior da UFMA, elegendo
democraticamente novos gestores. Por isso, o MUDe se compromete a respeitar o
COLUN como uma instância acadêmica que goze de autonomia e, como tal, que
participe da construção desse projeto institucional coletivo, para que suas
demandas possam ser discutidas a contento.
Blogue – No que diz respeito à autonomia universitária, que
tipo de tratamento pretendem dar à institucionalização dos campi do continente?
Coordenação do MUDe – Dos atuais campi do continente, apenas
Chapadinha e Imperatriz têm os Centros como Unidades Acadêmicas, e em
nenhum deles há Departamentos Acadêmicos, mas contam apenas com Coordenadorias
de Cursos. Essa estrutura organizacional fere o Regimento Geral da UFMA
vigente. Pretendemos mudar essa situação, mediante ampla consulta aos segmentos
docente, técnico-administrativo e estudantil. Logo de início, vamos propor a
reconfiguração dos colegiados dessas unidades acadêmicas, para integrar o coletivo
dos professores, técnico-administrativos e representação estudantil, ampliando
assim o seu nível de participação.
Blogue – Quais nomes serão apresentados pelo MUDe para
disputar e reitoria e a vice-reitoria da UFMA?
Coordenação do MUDe – Antônio Gonçalves, do Departamento de
Medicina II, para reitor, e Marise Marçalina, do Departamento de Educação I,
para vice-reitora.
Blogue - Democracia é a palavra-força do MUDe. Como
concretizar essa formulação junto à comunidade universitária: docentes, servidores
técnico-administrativos e estudantes? O que seria uma gestão democrática?
Coordenação do MUDe – De duas maneiras: como dissemos
anteriormente, investindo fortemente no diálogo e debate permanentes com todos
os segmentos (docentes, discentes e técnicos). E, para tal, vamos restabelecer
o respeito à autonomia das instâncias deliberativas da Instituição, assim como
a representação de todos os segmentos da comunidade universitária, fazendo
valer a legislação vigente; por outro lado, promovendo o acesso da comunidade
universitária ao orçamento e aos mecanismos de distribuição dos recursos,
tornando transparente e compartilhada a gestão financeira da UFMA.
Temos como princípio aliar a democratização das decisões
acadêmicas à respectiva gestão dos recursos institucionais.