por Luis Henrique Sousa *
A boataria sobre abono ou suspensão do Bolsa Família que
tomou conta do país revelou a pulsação da população que dele se utiliza. Mesmo
a destrambelhada que reclama que não dá para comprar a calça jeans da filha
(essa calça deve ser de grife), estava lá na fila da CAIXA.
O Bolsa Família dos governos Lula-Dilma, o maior programa de
transferência de renda que se tem notícia no mundo, um produto Made in Brazil
de exportação (a ONU recomenda a sua adoção em países pobres) sempre provocou
controvérsias, apoio efetivo só do povo que dele precisa. Qualquer que tenha
sido o propósito do criador do boato atirou no que viu e acertou no que não
viu.
As suspeitas imediatas é que o boato tenha partido dos
opositores do programa, que necessariamente não estão restritos só aos tucanos,
adversários históricos, episódio que serviu inclusive para a população dar um
recado a eles: sem Bolsa Família não dá.
Além do tucanato, tem muita gente por aí que é contra o
programa. Boa parte de nossa classe média, indignada por precisar pagar mais
caro pela prestação de serviços dos desempregados. Não é por qualquer mixaria
que o sujeito faz seus biscaites.
Na pior das hipóteses o cidadão ou cidadã tem o Bolsa todo
mês; de intelectuais respeitáveis, que acusam de ser um mecanismo clientelista;
opõem-se também economistas conservadores, que pregam ausência do Estado para
iniciativas como esta e parte significativa do mundo acadêmico, que se debruça
para entender, defender ou atacar o programa em teses e mais teses.
O episódio e a confusão da semana passada nos fazem refletir
sobre o programa. Ele está aí na paisagem e nós quase não nos apercebemos de
sua importância. Revelou principalmente o óbvio, onde ele é particularmente
mais sensível, e como não poderia deixar de ser, o desespero aconteceu nas
regiões mais pobres do país, o norte e nordeste, envolvendo 12 estados
brasileiros, somente um da região sudeste, o Rio de Janeiro, onde também se
registrou tumulto em agencias bancárias.
Só no Maranhão (maior cliente no país do Bolsa), cerca da
metade da população do estado (6,5 milhões) recebe o Bolsa Família, são 791.449
famílias, equivale a 3,2 milhões de pessoas, em 100% dos municípios
maranhenses, injetando mensalmente R$ 75,5 milhões de reais na economia.
Nos estados nordestinos o Bolsa Família deixou de ser apenas
um mecanismo de atenuar a pobreza absoluta, passou a ser também um indutor no
desenvolvimento econômico.
No Brasil, 13,8 milhões de famílias são atendidas e 1,6
bilhões de reais anualmente aplicados, que ao lado dos recursos da Previdência,
leia-se dinheiro dos velhinhos aposentados, 21,2 bilhões de reais, movimentam a
economia dos pobres municípios brasileiros e principalmente dos maranhenses.
É mais dinheiro que o FPM das prefeituras. Com a diferença
que o FPM e outras fontes de recursos municipais, como SUS, Merenda Escolar e
FUNDEB, não raramente, param nas contas pessoais dos gestores e são
responsáveis por algumas fortunas de prefeitos, ex-prefeitos e agiotas.
O Bolsa não. É dinheiro direto na veia do pobre. Não por
acaso os indicadores de pobreza do país medidos pelo GINI sofreram uma drástica
redução nos dez anos de existência do programa, de 0,609 nos anos 90, para os
atuais 0,519.
Pode até complementar os trezentos reais da calça jeans da
filha de algumas destrambelhadas, da prestação da TV HD e do celular de tantos
outros, mas, na maioria das vezes, ajuda a botar comida na mesa de quem antes
tinha poucas alternativas. Pensando bem, até a calça jeans da filha da
destrambelhada vira consumo.
* Jornalista e Assessor Parlamentar
(Fonte: MDS – Ministério de Desenvolvimento
Social)
(Fonte: FGV/Ministério da Fazenda)