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Temendo a volta de Sarney ao poder, José Reinaldo propôs o pacto preventivo |
Embora tenha sido amplamente debatido entre os atores
políticos e jornalistas, o pacto pelo Maranhão, proposto em artigo pelo deputado
federal José Reinaldo Tavares (PSB), não chamou a atenção dos principais
interessados.
Nem José Sarney (PMDB) nem o governador Flávio Dino (PCdoB)
fizeram qualquer comentário sobre a proposta.
Em novo artigo publicado hoje no Jornal Pequeno, longo e
cheio de curvas, Tavares tenta explicar o pacto.
A senha do acordo só está dita no 13º parágrafo do texto,
onde ele manifesta suas reais intenções: fazer uma aliança com Sarney agora, temendo
que o PMDB ocupe a cadeira presidencial e o coronel volte a ter força política
no cenário nacional.
Eis o pensamento vivo de José Reinaldo:
“O horizonte que se prenuncia é um horizonte de mudança
profunda no país e é muito provável que outros grupos assumam a presidência e o
poder. Se Lula cair – e tudo leva a crer que isso pode acontecer – Dilma cairá
junto. Nesse cenário, é muito provável que Michel Temer, o atual
vice-presidente, assuma a Presidência da República sob grande crise política."
O resto do artigo diz pouca coisa.
Ao propor o pacto, José Reinaldo está mesmo é preocupado com
a vingança de José Sarney.
Abaixo, o artigo publicado hoje.
PACTO E DEBATE PÚBLICO
Por José Reinaldo Tavares
Há muito tempo não se via no Maranhão uma ideia despertar
tanta atenção da sociedade e isso se deu em todo o estado. Porém, muitos dos
autoproclamados “formadores de opinião” simplesmente procuraram evitar o
debate, preferindo a tática da desqualificação, ora do autor da ideia, ora da
própria ideia. Passaram até a me agredir e tentar me desqualificar
pessoalmente.
No entanto, o mais curioso é que nenhum desses me convenceu
de que estou errado. Sabem por quê? Porque ninguém debateu a ideia, todos se
limitaram a bater em Sarney, entendendo que aquilo teria causas ocultas e que
eu estaria na verdade reabilitando o ex-senador, que, a partir daí, passaria a
dividir o governo com Flavio Dino. Meu Deus, que paranoia, pobreza de
pensamento e medo do debate verdadeiro!
De fato, essa é uma questão preocupante, pois estamos nos
acostumando apenas ao linchamento moral das pessoas de quem não gostamos. Não é
à toa que estão ocorrendo tantos casos de linchamento reais de
pseudocriminosos. Parece-me mais um perigoso fundamentalismo.
Por que não perguntar à população o que pensam? Bastam duas
perguntas: “você ouviu falar da proposta do pacto?” “Você acha que os políticos
do Maranhão – de todos os grupos políticos – deveriam se unir para defender
projetos importantes para o desenvolvimento do Maranhão? ”
É provável que tenham uma surpresa… Estive na Rádio São
Luís, no programa do Rogério, por cerca de uma hora e meia com microfone aberto
a perguntas e a grande maioria dos comentários foram na verdade de apoio à
proposta. Deveríamos fazer uma pesquisa.
Será que estou pondo Flávio Dino em risco? Flávio terá
sempre o meu apoio, ele está fazendo um ótimo governo e sairá facilmente
vitorioso sobre qualquer um se for para a reeleição. Não acredito que ainda
teremos um membro da família Sarney concorrendo ao governo.
Agora me respondam: quem (para valer!) enfrentou Sarney mais
do que eu? Enfrentei-o quando ele estava no auge do poder. Quem apanhou mais do
que eu, que até preso fui? Quem se sacrificou pela vitória de Jackson Lago a
ponto de deixar o sonho de ir para o Senado a fim de me manter no governo até o
último dia? Esqueceram-se disso? Jackson venceria o pleito sem mim?
Tenho certeza de que não e me refiro ao seguinte: Jackson
queria ser candidato único do governo. Ele contra Roseana. Eu de pronto
recusei, porque seria derrota certa. Ele ficou furioso, deixou de falar comigo
por mais de um mês, fez sua esposa pedir exoneração do cargo de Secretária da
Solidariedade e por aí foi. Alguns amigos que tentaram convencê-lo de que eu
estava certo chegaram a ouvir dele: “vocês não estão entendendo, Zé Reinaldo é
um agente do Sarney infiltrado na oposição para acabar conosco”.
Realmente não me importei. Jackson era um homem de bem, mas
que estava muito estressado na ocasião. Tanto que antes ainda do primeiro turno
ele me procurou para dizer que eu estava certo e pedir desculpas pelo que
disse. Gesto de um grande homem. Ney Bello assistiu a essa conversa.
Poucas pessoas se expuseram tanto à ira de Sarney, como eu e
Lourival Bogéa. Sofremos muito – e na pele – por isso. E ele (que, mais do que
ninguém, poderia ter uma outra atitude) fez um editorial excelente, chamando a
atenção dos críticos para o cerne da questão e defendendo a discussão da ideia.
Não falei com o governador sobre o pacto. Não queria
envolvê-lo em nada prematuramente. A responsabilidade é só minha. No entanto,
logo que assumiu o mandato, ele fez um discurso a uma plateia de prefeitos em
que foi muito elogiado ao dizer que trataria todos do mesmo jeito, não
importando se votaram nele ou não, se eram ou não do grupo Sarney, que o
compromisso dele era com o Maranhão e ali todos representavam o povo
maranhense.
Pois bem, o ataque desqualificador que mais se repete por aí
é o de que Sarney mandou durante cinquenta anos e nada fez pelo Maranhão. Por
que faria agora? À primeira vista parece correta a pergunta, mas não é, pois
não é essa a questão. Não vou, meus caros, aderir à pauta do Sarney! É o contrário,
o chamado é para que ele adira à nossa, a do governador, a do Maranhão. Há mais
de dez anos não falo e nem vejo Sarney. Não sei o que pensa e nem se está
disposto.
Ademais, eu tenho direito e a obrigação de externar o que
penso e o que sinto, mormente a partir de minhas impressões e presença
constante, diária, na Câmara Federal, que é uma casa, sobretudo, política. O
horizonte que se prenuncia é um horizonte de mudança profunda no país e é muito
provável que outros grupos assumam a presidência e o poder. Se Lula cair – e
tudo leva a crer que isso pode acontecer – Dilma cairá junto. Nesse cenário, é
muito provável que Michel Temer, o atual vice-presidente, assuma a Presidência
da República sob grande crise política.
Flávio continuará a fazer um ótimo governo, mas o nosso
atraso é tão grande que precisaremos muito eleger alguns projetos
estruturantes, projetos de interesse de estado, acima de governos, o que só
faremos com a ajuda de todos, para termos, consequentemente, o apoio de todos.
Temos que discutir que projetos serão esses e isso terá que vir por meio de um
amplo entendimento.
A Folha de São Paulo de domingo escreveu em editorial que “a
crise política começa a impor a necessidade de alguma forma de consenso que
coloque os interesses nacionais em primeiro lugar”. E então? Será que atitudes
como essa só serão boas para o Brasil, mas não se aplicam ao Maranhão?
Por fim, exporei aqui, mais uma vez, qual seriam os meus
projetos para o Pacto:
Primeiro seria implantar o Instituto Tecnológico do Nordeste
em Alcântara, ou seja trazer a melhor escola de engenharia do Brasil para cá.
Ela permitiu a vitoriosa indústria aeronáutica brasileira e a difusão
tecnologia de ponta no sudeste.
O segundo seria o “Super” Porto do Itaqui, para ser o
parceiro concentrador de carga do Brasil para o Canal do Panamá. Isso exigirá
muito investimento e se não o conseguirmos, vamos perder o lugar para o Porto
de Pecém, no Ceará.
O terceiro escolhido por mim seria o transporte de massa de
São Luís e da região metropolitana, a ser feito com VLT e trens, com terminais
modernos e tudo integrado para dar rapidez e conforto ao passageiro. Hoje temos
um dos piores sistemas do país.
Em quarto seria a implantação de um moderno sistema de
logística em todo o estado, capaz de racionalizar o transporte de cargas e
passageiros em todo o nosso território.
E em quinto seria um centro de alto nível para a formação de
professores para o ensino fundamental e básico, única forma capaz de dar
qualidade ao ensino público no nosso estado.
É evidente que em um Pacto as prioridades poderiam ser
outras. Mas que fossem todas muito importantes e discutidas à exaustão.
Alguém poderia ser contra? Impossível. Há algum cargo
público envolvido? Não.
Esse é o pacto que propus. Vamos deixar de picuinhas sem
sentido.