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sexta-feira, 17 de junho de 2011

QUANDO O ASFALTO CHEGAR AO SANTA INÊS

Marcos Fábio Belo Matos *


O Santa Inês é um bairro bem pitoresco de Imperatriz. É um bairro de periferia, localizado no que antes se chamava Quinta do Jacó, uma fazenda que foi tendo seus arredores ocupados pouco a pouco por uma população de trabalhadores de origem simples e hoje, de uns cinco anos pra cá, virou uma floresta de condomínios fechados, de muros altos, cheios de carros e de emergentes, de portões automáticos e cercas elétricas. Só eu já contei uns oito feitos e alguns outros por fazer, para tudo o que é desejo e bolso das várias classes médias.


Nas poucas ruas, é possível ver as pessoas sentadas na frente das casas. A gente passa de carro e as elas estão lá conversando, as crianças brincando nas portas, cadeiras, rádios de pilha, bicicletas e motos, fardas escolares, cadernos nos braços e mochilas chegando da escola ou saindo para a aula.


Os moradores esperavam, desde que o novo prefeito assumiu, que ele asfaltasse as ruas do bairro. Ele disse que asfaltaria as principais, parece que tinha uma emenda de um deputado com alguns milhões para isso. Quando o povo cobrava, a prefeitura dizia que não podia, porque as chuvas e tals. Agora que as chuvas pararam, parece que a coisa vai mesmo.


Um dia desses, fui passar pela rua lateral do cemitério e não pude. Havia uns montes de areia, umas caçambas atalhando o caminho, uns caras com pás nas mãos ou espalhando terra. Entendi que era a promessa da prefeitura se cumprindo. Fiz um caminho mais longo, satisfeito por ver que agora a coisa ia mesmo.


As principais ruas, como disse a prefeitura, foram raspadas, parece que passaram uma espécie de piçarra, tá tudo durinho, não levanta muita poeira quando a gente passa. As pessoas, que, em algumas ruas mais prejudicadas, não podiam sentar nas portas, agora estão de cadeira na calçada. À tardinha, ficam todos lá. Parecem bem contentes com o serviço. Parecem felizes com o que já foi feito.


Mas fico imaginando mesmo é quando o asfalto chegar ao Santa Inês. Como ficarão alegres as crianças nas ruas, a profusão de bicicletas e patinetes, alguns patins, os moleques riscando de giz aquele enorme quadro negro, novinho em folha. As pessoas vão querer botar as cadeiras é no asfalto mesmo. Os condôminos da floresta de casas muradas vão comentar que o valor delas vai subir, se quiserem podem até vender...



Aí a gente vai passar de carro (é preciso quebra-molas, autoridades!) e vai ver os velhos, os homens, as mulheres, os moços, as moças e a meninada de riso frouxo, aqueles que não acreditavam que o asfalto chegasse um dia com a cara dos incrédulos satisfeitos por terem sido contrariados. E os que pressagiaram o ‘pretinho básico’, contentes e com aquela frase-clichê: “Eu não disse?”.


Quando o asfalto chegar ao Santa Inês, tudo vai ficar mais bonito, mais moderno, mais valorizado, todos vão se achar mais cidadãos, enfim.


Marcos Fábio Belo Matos é jornalista e professor do Curso de Jornalismo da UFMA/Imperatriz

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