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terça-feira, 2 de abril de 2013

OS LIMITES DO EXAURIMENTO POLÍTICO DO GRUPO SARNEY


Salvador Fernandes *
 
A cada pleito eleitoral, ouve-se repetidamente, dos timoneiros da oposição maranhense, que o ciclo de domínio político do clã Sarney está no fim. Quando os votos são contabilizados, mais uma vez, o Grupo elegeu, nas disputas majoritárias, a ampla maioria dos prefeitos municipais, todos os Senadores da República e o Governador do Estado.

Registre-se, que para os dois últimos cargos a regra “natural” foi quebrada apenas no escrutínio de 1990, cujo vitorioso ao Senado foi Epitácio Cafeteira, não alinhado, à época, com a oligarquia Sarney, e em 2006, na disputa ao Governo Estadual vencida por Jackson Lago.

Na eleição proporcional para os parlamentos estadual e federal, em média, 85% das vagas ficaram para os integrantes dos Partidos governistas. Aqui, o processo assemelha-se a uma “política de cotas”: quase sempre, a autêntica bancada oposicionista maranhense não passa de 4 ou 5 Deputados Estaduais e de 2 ou 3 Deputados Federais.

Na realidade, o travo político-eleitoral maior dos Sarneys, no período pós-ditadura militar, é a peleja para o Governo do Estado. Por conta disso, a cada eleição estadual, eles maquinam um novo e variado repertório de estripulias, alianças políticas esdrúxulas, fraudes eleitorais e corrupção administrativa.

Deste modo foi em 1986, quando o então Presidente José Sarney, num surpreendente acordo político com o PMDB, presidido pelo saudoso Ulisses Guimarães, converteu a principal expressão eleitoral da oposição maranhense, Epitácio Cafeteira, em candidato governista.

No pleito seguinte, em 1990, no apagar das luzes e para evitar uma derrota eleitoral iminente para o ex-aliado João Castelo, o Grupo trocou de candidato. O Senador Edison Lobão substituiu, na disputa ao Governo do Estado, a cambaleante candidatura do Deputado Federal Sarney Filho.

A eleição foi decidida favoravelmente, no segundo turno, com um leque de curiosidades dignas de destaque: registro em cartório, pelo candidato Edison Lobão, da proposta de governo e participação de autoridade da Justiça Eleitoral em passeata da candidatura governista, isso sem falar do insólito engajamento do Governador João Alberto na campanha eleitoral.

Já na contenda de 1994, o grupo Sarney, que em nível nacional passou a compor bloco político de apoio à candidatura de FHC à Presidência da República, alcançou, pelo menos oficialmente, com a Deputada Federal Roseana Sarney, no segundo turno, uma vitória eleitoral apertada ao Governo estadual. Neste pleito, o vale-tudo da candidatura governista foi a tônica da campanha eleitoral.

Destacam-se: o corte, pelo sistema de comunicação do Grupo, do sinal da Embratel, para bloquear a divulgação de pesquisa eleitoral que lhes era desfavorável; a campanha agressiva de criminalização do candidato oposicionista, Epitácio Cafeteira (Caso Reis Pacheco) e a apuração à conta-gotas das urnas, provocando atrasos injustificados na divulgação do resultado final da eleição para Governador do Estado.  Aliás, como se sabe, é voz corrente na oposição maranhense, que a verdade eleitoral foi outra: a derrota da “Branca” por uma diferença próxima de 70 mil votos.

Nas eleições de 2002, o Senador José Sarney, embevecido pelo brilho estrelar, e àquela altura irrefreável, da candidatura de Lula à Presidência da República, abandonou a nau peessedebista, para se transformar, em breve tempo após a vitória do petista, em um dos seus chegados prediletos. No Estado, o candidato oficial, José Reinaldo, venceu, por uma pequena margem de votos, no primeiro turno da eleição. Apregoou, entre outras pérolas, a “reinvenção” da administração pública estadual.

A vitória eleitoral reinaldista contou também com a benigna contribuição do campo oposicionista, pois a altiva, porém extemporânea, desistência do candidato Roberto Rocha e a camaleônica candidatura majoritária petista, foram decisivas para a não realização do segundo turno da eleição ao Governo do Estado.

Em 2006, na primeira disputa do grupo Sarney ao Governo do Estado, desprovida do seu cabo eleitoral fundamental, a máquina pública estadual, a candidata Roseana Sarney foi derrotada, no segundo turno, pelo ex-prefeito de São Luís Jackson Lago. Na refrega, nem o ostensivo apoio de parte do PT do Maranhão e do Presidente Lula impediram o fracasso provisório dos Sarneys. O revés eleitoral durou pouco mais de dois anos. A Justiça Eleitoral restabeleceu a antiga ordem, sob o argumento de abuso, pelo candidato vencedor, de “poder econômico e político”.

Em 2010, o rosário criativo de falcatruas do Grupo passou a ter, definitivamente, na linha de frente, um importante esteio eleitoral: o Presidente Lula. Agora unha e carne do “imortal” Senador José Sarney, arquitetou a capitulação definitiva do PT maranhense aos interesses provincianos do Grupo. No toma lá da cá de favores escusos, Lula exigiu o incondicional apoio petista à reeleição da Governadora Roseana Sarney. Na busca de uma vitória consagradora da filha do santificado, apostou também no isolamento das candidaturas de centro-esquerda.

A repugnante engenharia política, simbolizada pela rendição oficial do PT estadual e pela enxurrada de intervenções patéticas de Lula, Dilma e outras lideranças do Partido no programa eleitoral de Roseana, contou, ainda, com o reforço eleitoral infalível dos milhões gastos com os “convênios bissextos” – aqueles acordos estaduais firmados de quatro em quatro anos com o objetivo de irrigar o caixa dos aliados municipais –, celebrados e liberados religiosamente às vésperas dos festejos de São Pedro, no limite do prazo legal. Mesmo assim, a vitória no primeiro turno foi por uma ínfima e questionável diferença de votos.

Pelo desenrolar dos fatos, estão delineados, para disputa majoritária de 2014, os conservadores traços da macropolítica maranhense. O principal protagonista nacional, o “governo petista de coalizão”, que aceita e apoia todo e qualquer grupo ou pessoa, desde que tenha lastro eleitoral e seja da malfadada “base aliada”, certamente repetirá, em detrimento do candidato de centro-esquerda, Flávio Dino, a “exitosa” aliança do pleito anterior. Desta forma, danem-se as forças políticas progressistas do Maranhão, mesmo aliadas, contrárias às determinações da bula petista.

Assim, aguardem maranhenses, as aparições maquiadas das lideranças nacionais do PT nos programas eleitorais de Luís Fernando ou de Edison Lobão, a recorrente discurseira do Maranhão, como “estado do futuro”, o “progresso está chegando”, “mais emprego para o povo”, “os corvos desesperançados não gostam de nossa terra”... blá, blá, blá.
Que azia.
 
* Salvador Fernandes é economista, servidor público federal e ex-presidente estadual do PT-MA

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