Ricardo Costa Gonçalves
Professor, dirigente do PT e mestrando em Estado e Políticas
Públicas pela FPA
A democracia é uma das principais bandeiras de luta da
sociedade brasileira. E a construção de uma sociedade realmente democrática só
se realiza se houver liberdade de expressão para o conjunto da sociedade, o que
pressupõe a garantia do direito à comunicação. Nesse sentido, o Brasil precisa
enfrentar o desafio de atualizar os instrumentos de regulação democrática dos
meios de comunicação (a percepção contemporânea de que os meios de comunicação
são instituições centrais para os regimes democráticos garantiu a esses meios,
por parte dos Estados Nacionais, um conjunto de direitos especiais que têm sua
mais importante expressão no direito à liberdade de imprensa. Por outro lado,
esse mesmo reconhecimento e o fato de serem definidos como direitos especiais
levaram os Estados Nacionais a estabelecerem um conjunto de regras que
ressaltam os deveres da mídia em relação às nossas democracias). Assim, os
movimentos populares precisam se mobilizar, nas ruas e redes, para exigir que o
governo cumpra o seu compromisso de fazer abertamente esse debate com a
sociedade.
Principalmente, neste momento em que o povo brasileiro e
suas instituições democráticas enfrentam uma conjuntura política e econômica
adversa, mais do que nunca, é necessário levantar a bandeira da regulação, para
que se tenha mais diversidade e pluralidade de vozes na mídia.
Descontente com a derrota nas eleições presidenciais, a
direita brasileira sai às ruas defendendo a quebra da legalidade democrática.
Nessa conjuntura, a mídia privada manipula a informação, distorce os fatos, cria
crises, esconde temas e criminaliza movimentos sociais progressistas. O
principal disseminador desse discurso é a Rede Globo de Televisão que completa meio
século em abril dando provas da sua falta de compromisso com o interesse
público e com a democracia.
O Congresso Nacional, extremamente conservador, tem sinalizado
que a pauta da direita (redução de direitos trabalhistas, sociais, redução da
maioridade penal, revogação do estatuto do desarmamento, dentre outros) dará a
tônica da atividade legislativa. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha, afirmou que qualquer projeto de regulação dos meios de comunicação só
será encaminhado para votação por cima do seu cadáver. Neste mesmo sentido, o
Poder Judiciário continua agindo de forma seletiva e parcial, refratário à
agenda da democratização da comunicação.
A Presidenta Dilma Rousseff – que só se reelegeu porque
assumiu o compromisso de adotar políticas que aprofundassem direitos sociais e
democráticos – dá sinais contraditórios de que essa agenda será aplicada.
Neste contexto, é necessário unir e mobilizar os movimentos
sociais para barrar a direita e pressionar o governo, exigindo o cumprimento
dos compromissos firmados. Agenda como a Reforma Política com o fim do
financiamento empresarial das campanhas; a taxação de grandes fortunas; a
defesa da Petrobras; o combate às terceirizações; contra a redução da
maioridade penal; em defesa dos direitos dos indígenas; do meio ambiente;
contra o extermínio da juventude negra; pela reforma agrária e urbana; pelos
10% do PIB para a educação e a defesa do SUS, precisam ser defendidas pelo
conjunto dos movimentos sociais. A luta é por Mais Democracia e Mais Direitos!
No âmbito da comunicação, os desafios são ainda maiores, já
que nos últimos 12 anos o governo não enfrentou essa agenda de forma
estruturante. Importantes conquistas como criação da EBC, a aprovação das leis
de Acesso à Informação, regulação da TV por Assinatura (Seac) e o Marco Civil
da Internet, só foram possíveis em função da pressão popular. No restante, o
sistema permanece praticamente inalterado, caracterizado por uma forte
concentração econômica e ausência de diversidade e pluralidade.
A Presidenta Dilma Rousseff e o ministro das Comunicações,
Ricardo Berzoini, têm dado declarações públicas de que a agenda da regulação
dos meios de comunicação será colocada neste mandato. É preciso cobrar que
esse discurso seja transformado em prática. Por outro lado, o setor empresarial
segue firme para impedir que esse debate aconteça. Continua usando a mesma e
velha manobra de distorcer essa discussão, tachando qualquer tipo de regulação
como censura.
Portanto, é indispensável ampliar a mobilização e pressão da
sociedade para destravar esta agenda. Desde a 1ª Conferência Nacional de
Comunicação, a sociedade brasileira tem ampliado a base social e consolidado
propostas para um novo marco regulatório das comunicações. A principal delas é
o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática, que em 33 artigos
delineia um novo cenário para a comunicação no país. Inspirada nos tratados
internacionais já ratificados pelo Brasil e em experiências regulatórias de
países como França, Inglaterra, Estados Unidos, Portugal, Espanha e outros, a
Lei da Mídia Democrática propõe mecanismos de implementação dos dispositivos
constitucionais.
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