Cunha, Temer e Renan: triunvirato PMDBista é uma ameaça ao Brasil |
No dia 17 de abril, o Brasil conseguiu oferecer ao mundo o
espetáculo teatral da primeira etapa do impedimento da presidenta Dilma, com o
apoio imprescindível do réu Eduardo Cunha no comando do processo como
presidente da Câmara dos Deputados. A
aceitação da denúncia ocorreu sem a apresentação de nenhuma prova contra a
Presidenta da República que justificasse seu impedimento, já que a Constituição
prevê a existência de crime de responsabilidade no mandado em curso.
Este processo de impedimento trata-se de uma ampla
articulação golpista destinada a conduzir ao Palácio do Planalto, o PMDB, que
não conseguiria se eleger em eleições diretas. Mais do que isso, esse processo
criminoso de ruptura da ordem democrática abre caminho político para o retorno
do programa de governo que foi derrotado em outubro de 2014, sob a candidatura
de Aécio Neves.
Michel Temer tem participado ativamente da conspiração
golpista para usurpar o poder da legítima mandatária, ele foi eleito na mesma
chapa e assinou mais de um decreto autorizativo de natureza orçamentária, igual
aos que estão na base da alegação de crime de responsabilidade contra a
Presidenta Dilma. No entanto, na compreensão da sua tropa de choque, em seu
caso não cabe impedimento.
Mas como se explica que o processo de impedimento da
presidenta tenha conseguido avançar tão rapidamente na Câmara? Na verdade as
classes dominantes nunca engoliram que o país fosse presidido por dirigentes
políticos ligados a causas populares. No passado, estão os exemplos Getúlio e
João Goulart. Por mais que o governo
Lula e Dilma fizesse de tudo para agradar nossas elites em termos de política
econômica, políticas setoriais e de ocupação de cargos na administração
pública, sempre permaneceu por parte da burguesia brasileira uma desconfiança e
o desejo de ver instalado no poder um grupo de políticos de maior confiança.
Para consecução desse objetivo, foi se construindo um
consenso em torno da estratégia do golpe midiático-jurídico. Os excessos da Lava Jato, as arbitrariedades
cometidas pelo Juiz Sérgio Moro, o massacre dos meios de comunicação, fazem
parte da composição dessa estratégia golpista. O objetivo é depor Dilma,
condenar Lula e finalmente realizar o sonho de reconquistar o Palácio do
Planalto.
Só em assistirmos a colocação de tal enredo em movimento, já
nos coloca um enorme temor em relação ao governo que viesse substituir o atual.
No entanto, há muito mais o que temer num governo Michel Temer e seus
articuladores do golpe. As falas dos deputados na noite de 17 de abril, as
asneiras destiladas por figuras como Bolsonaro e os fundamentalistas radicais,
a possibilidade de encerramento das investigações da Lava Jato, a possível
anistia dos crimes cometidos pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha, a aliança com o PSDB, enfim são inúmeros os riscos de retrocesso
político.
Mas, afinal de contas, o que recear em um possível governo
Temer? Muita coisa! As possibilidades de retrocesso político são grandes.
As propostas contidas no documento chamado “Uma ponte para o
futuro” que foi divulgado no ano passado pela Fundação Ulysses Guimarães do
PMDB, sugere a retomada do processo de privatização, principalmente dos bancos
públicos, orienta a desconstrução das conquistas em torno das políticas sociais
(PRONATEC, BOLSA FAMILIA, PROUNI e outras), propõe a ruptura com as políticas
de integração regional na América do Sul, identifica o Regime Geral de
Previdência Social (RGPS) como um
programa que comprometeria o sucesso de um ajuste fiscal rigoroso, aponta para
a desvinculação das despesas constitucionais obrigatórias com a saúde e
educação. Ainda, o documento aponta a necessidade de promover a retirada de
direitos previdenciários, além de propor a eliminação das vinculações com o
piso do salário mínimo no RGPS.
No entanto, é importante lembrar que este ano acontece o
pleito municipal em outubro próximo. Assim
a proximidade com o pleito municipal certamente atuar como colchão contra
medidas extremas, na área da política econômica e das reformas sociais.
Portanto, o governo Temer e os demais golpistas terão dificuldades em
patrocinar de forma mais ativa uma pauta de redução de direitos e de promoção
de maiores cortes orçamentários. Este será um dos diversos dilemas com os quais
se defrontarão os golpistas. Como atender a agenda de mudança de interesses da
elite, com as necessidades de apontar alguma esperança para a maioria da
população?
Mas, o cenário pós-consolidação do golpe no Senado é muito
preocupante. Apesar de que a situação político-eleitoral recomende precaução,
mas, a sanha revanchista dos golpistas é tamanha envergadura que não devemos
nos surpreender com mediadas antipopulares, até mesmo antes das eleições. O
vice-presidente conspirador deverá comandar uma agenda conservadora. Fala-se em
reforma administrativa. Enfim, a velha e conhecida cantilena neoliberal, “menos
Estado”, tão propalado pelas editorias dos grandes jornais e da TV privada.
A resistência e o combate dos setores que se sentirem
prejudicados por tal agenda não pode ser menosprezada. Espera-se que setores do
movimento sindical, como as centrais sindicais, parcelas do movimento
estudantil, UNE e UBES, e demais
movimentos sociais, como MST e outros deverão se mobilizar e lutar contra essa
agenda conservadora. Porém deverão superar a fragilidade do movimento desorganizado e enfrentar a
institucionalidade repressiva do aparelho do Estado “sob nova direção”.
* Graduado em Matemática, professor, Especialista em
Planejamento e Desenvolvimento Regional, Mestrando em Estado e Políticas
Públicas pela FPA/FLACSO.
2 comentários:
Não adore o estatismo cegamente. O estatismo é apenas uma das milhares de teorias sobre prestação de serviços. Não existe nada racional que prove ser o único caminho para resolver os problemas. Saúde, educação, segurança, precisam ser tão fáceis de adquirir como produtos em um supermercado. Vamos parar de defender o estatismo como um fim em si mesmo!
Recomendo a leitura de nosso trabalho: Carta Aberta a Michel Temer
http://cartaabertaamicheltemer.blogspot.com.br/?m=1
Lance, vou enviar seu comentário para que o autor do artigo, Ricardo Costa Gonçalves, possa se pronunciar.
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