Foi festejada pela grande mídia e hostilizada por
simpatizantes brasileiros do regime cubano, em atitudes agressivas tão
condenáveis quanto a censura na terra natal dela.
Ninguém pode impedir uma pessoa de expressar o pensamento,
mesmo que seja contrário à ideia dos opositores, desde que sejam mantidos o bom
nível dos debates e os cuidados quanto à injúria, calúnia e difamação.
Yoani Sánchez deve ter motivos pessoais e coletivos para
contestar as restrições à liberdade de expressão no regime dos irmãos Fidel e
Raul Castro.
São inadmissíveis, no mundo contemporâneo, ditaduras de
qualquer linha ideológica.
Mas o que chama atenção é a cobertura da mídia internacional
sobre Cuba. Na maioria das matérias na TV e nos jornais, Cuba é tratada como
uma ilha exótica, onde reinam os irmãos Castro e não há liberdade.
Esse recorte jornalístico começa pela CNN Internacional e
percorre os circuitos midiáticos da América Latina, atravessando o Brasil pela
Rede Globo e nos jornalões, liderados pela Folha de São Paulo.
As notícias sobre Cuba focam na “ditadura dos irmãos
Castro”, como se nada mais interessante houvesse para relatar sobre a ilha.
Não se vê nos jornais ou nas matérias de TV uma linha ou
imagem sobre os indicadores educacionais e de saúde em Cuba. Também não há
notícias sobre a prática desportiva, a agricultura, a produção científica e a renomada
escola de cinema.
Cuba só é vista sob a lente da censura. Com base nesse
recorte jornalístico, a mídia informa o público pela metade, sem dar a
oportunidade ao contraditório.
O que há na ilha além da censura?
Cuba passou por um processo revolucionário que demoliu
aquele cenário grotesco da ilha-bordel dos milionários do fumo e do açúcar que
se locupletavam às custas da exploração do povo cubano nas lavouras.
Por quase 40 anos, os cubanos sobreviveram sob o bloqueio
econômico liderado pelos Estados Unidos, que impediam a ilha de manter relações
comerciais com a Europa, parte da América e da Ásia.
Na Guerra Fria, quando o mundo alinhava-se à Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderada pelos Estados Unidos; ou ao Pacto
de Varsóvia, sob o comando da União Soviética, Cuba resistiu com a
solidariedade dos camaradas russos.
Isolada economicamente, Cuba enfrentava ainda as sucessivas
tentativas de golpes orquestrados pelos Estados Unidos. Era uma questão de
honra do imperialismo a derrota da todos os regimes de inspiração socialista,
para que vigorasse no mundo o pensamento único do capital como única forma de
felicidade sobre o planeta Terra.
É preciso entender esse contexto para ver criticamente a
cobertura da mídia internacional e brasileira sobre Cuba.
Há uma padronização da cobertura jornalística sobre a ilha,
os irmãos Castro e o venezuelano Hugo Chávez.
O telespectador médio, ao assistir uma reportagem sobre a
Venezuela, só consegue enxergar em Chávez um ditador.
As matérias não deixam a audiência saber que na Venezuela
existem eleições diretas e que Chávez foi reeleito no voto direto e vítima de
um golpe da elite petroleira em 2000.
Cuba e Venezuela, países de inspiração socialista, são
estigmatizados porque causam estranheza ao pensamento único do capitalismo
neoliberal.
E assim caminha a humanidade, influenciada por um padrão
jornalístico cheio de meias verdades e falsas mentiras.
Deixem a blogueira Yoani Sánchez falar, mas é preciso dizer
tudo sobre Cuba. Recortar a censura e colocá-la como o fato principal, sempre, não é a
melhor maneira de informar a audiência.
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