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terça-feira, 26 de março de 2013

NOITE DE DELEITE E IMPROVISO

Chico Discos: encontro do público com a boa música em São Luís
por Eduardo Júlio
 
As três correntes musicais que mais aprecio são, em ordem de preferência, aquela que me conduz à transcendência (música barroca), aquela que me traz vitalidade (rock’ n’ roll) e aquela que me surpreende (jazz). O guitarrista e bandolinista maranhense Ronaldo Rodrigues transita pela terceira via. Ele nos ofereceu uma rara e agradável noite de jazz e de música instrumental, na última sexta-feira, no Chico Discos, quando apresentou o show “Black & Tal”.
 
Mostrando habilidade e segurança na execução dos temas e desenvoltura no diálogo com os músicos que o acompanharam, Ronaldo Rodrigues foi aplaudido com entusiasmo, no final de cada música que executou, pelo público que compareceu ao espaço para vê-lo. E mais: inseriu o bandolim, instrumento de timbre nobre, no Brasil geralmente associado ao choro, em um contexto musical mais amplo e, digamos, cosmopolita, como Hamilton de Holanda já faz, embora, em ambos os casos, o DNA do choro esteja presente.
 
Show Black e Tal: viagem pelo jazz e música instrumental
Como anunciado, o show foi dividido em dois tempos. Na primeira etapa, Ronaldo dividiu a cena com o violonista Orlando Moraes, formando o Duo Moron.  A dupla executou temas instrumentais acústicos, incluindo a delicada “Água e Vinho”, de Egberto Gismonti, “Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá e Antonio Maria, além de composições de Orlando Moraes, que seguem a linha da música instrumental brasileira mais introspectiva, corrente, aliás, pouco experimentada por aqui.
 
Na primeira metade da década passada, quando frequentava a casa de Ronaldo, sempre encontrava a dupla ensaiando e por várias vezes perguntei quando teria a oportunidade de vê-los no palco. Este dia chegou.
 
Um único porém: o espaço não foi adequado para este tipo de sonoridade. Afinal, o Chico Discos é um bar. No local, pessoas conversam e as paredes não possuem uma acústica adequada. Por isso, quem estava no fundão teve dificuldade de ouvir o violão puro de Orlando Moraes, compositor que merece maior atenção e destaque.
 
Na segunda etapa, o som mudou para o formato elétrico e foi a vez de Ronaldo ser acompanhado pelo jovem Samir Aranha, no baixo, e pelo baterista Moisés Mota. Ronaldo mostrou o domínio que já conquistou das cordas da guitarra.  Habilidade que vem desenvolvendo gradativamente. A cada ano, o músico se apresenta melhor. O jovem Samir foi seguro e cumpriu bem o dever de formar a base com os timbres graves ao lado de quase veteranos. O baterista Moises Mota nem se fala. Herói das baquetas desde os tempos da Mano Bantu, distribuiu contratempos inusitados,  surpresas tão necessárias numa apresentação de jazz.
 
O repertório transitou entre temas de Wes Montgomery, Herbie Hancock, John Coltrane, Jaco Pastorius, Gerorge Benson, com molde de soul e de funk, como avisou antecipadamente Ronaldo, tentando deixar claro que não se tratava de uma apresentação de jazz tradicional.
 
Confesso que tinha ficado um pouco decepcionado com a apresentação de Ronaldo Rodrigues, no ano passado, no Bar Odeon. Talvez, pela falta de entrosamento demonstrado com os instrumentistas que o acompanharam naquela noite. Bons músicos, aliás. Mas, desta vez, o papo foi outro. Ronaldo alçou o prometido e esperado voo, demonstrando domínio de cena e dos instrumentos que tocou.
 
Aliás, o Chico Discos vem se tornando um pequeno espaço para a música contemporânea e alternativa feita em São Luís, principalmente, para a nova cena do rock com molde pop. Por lá, já se apresentaram Pill Veras, André Lucap, Marcos Magah, Djalma Lúcio, entre outros, e, agora, foi a vez de o bar abrir espaço para a música instrumental.

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