São Luís do Maranhão é reconhecida como a “Atenas
brasileira”, em alusão à frondosa geração de intelectuais que por aqui viveu no
séc. XIX, sempre saudada como excepcional e digna mesmo de um Panteão. Esse
título foi e é repetido e reproduzido para dar ao estado ares de
intelectualidade que contrastam com seu quase ¼ de população analfabeta.
Em 1878, um membro preterido da elite do Maranhão decidiu
rechaçar a ideia de Atenas brasileira e o pessoalismo que reinava no campo
literário de então. Tendo como alvo o livro Pantheon Maranhense, monumento
de consagração dos ilustres letrados falecidos do estado, Um livro de
crítica (que a Pitomba! Livros e discos lança neste domingo, dia 04, às
18h30, na Feira do Livro de São Luís), de Frederico José Correa é uma
peça rara na historiografia brasileira. Nele, o autor expõe as feridas e deixa
ver a fragilidade de um país “em formação”, envolto em autoconsagração e na
“infâmia” da coterie. Esta é a segunda edição da obra, que foi
lançada há 137 anos.
AUTOR PROSCRITO
Frederico José Correa (advogado que chegou a ser presidente
da Província) e seu livro passaram, desde então, por um processo de
encobrimento, tornaram-se envoltos em informações imprecisas, dados falsos
e, principalmente, em silêncio, como uma mácula à ideia de uma Atenas
brasileira letrada na ilha do Maranhão. Correa só é mencionado em notas de
rodapé, como um “escritor menor”, eventualmente no mesmo cofo daqueles que
tanto criticava, mas nunca reeditado ou estudado em profundidade ou, como
disse Nascimento de Moraes em Vencidos e degenerados, “Procuravam,
mesmo, abafá-la; a sua divulgação não era própria, não trazia vantagem às
letras pátrias”. Não interessava aos mantenedores da Atenas a obra de Correa,
como atesta o historiador Henrique Borralho em um dos ensaios que completa esta
edição.
ENSAIOS E FORTUNA CRÍTICA
Além do texto integral de Um livro de crítica, esta
edição contém ensaios de Ricardo Leão (autor do livro Os
atenienses e a invenção do cânone nacional) e Henrique Borralho, (autor de Uma
Athenas Equinocial: a literatura e a fundação de um Maranhão no império
brasileiro), que analisam a obra de Correa no séc. XIX e seus usos e
encobrimentos no séc. XX. O historiador Bruno Azevêdo, editor da obra,
pesquisou a fortuna crítica do livro e a biografia de Correa, com artigos e
resenhas de Um livro de crítica, ainda em 1878, até os obituários do
autor. O volume, composto em tipografia inspirada na dos anos 1800, traz ainda
um glossário montado como um Almanak de época. A capa é do designer Waldeilson
Paixão, a partir dos impressos da Tipografia do Frias, que rodou a edição
original. A preparação de texto é de Sebastião Moreira Duarte.
Leia um trecho
“Nada mais apreciável do que um bom livro de crítica. O seu
autor, colocando-se acima de todas as considerações que fazem o espírito de roda,
só olha ao mérito real, e com uma justa e acertada censura proclama os talentos
de uns, confunde a mediocridade de outros, corrige erros onde não foram
notados, descobre belezas que a outros escaparão, faz calar a opinião de tantos
que se fizeram juízes, sem o poderem ser, e desmascara a petulante coterie,
que se serve de meios industriosos para dar celebridade a quem a não merece, só
porque pertence a certa família de privilegiados, só porque estudaram juntos ou
os ligam outros laços e circunstâncias que geram a comunhão de interesses.”
UM LIVRO DE CRÍTICA
228 páginas, 15,5 x 22,5 cm
Preço sugerido R$ 50,00
Capa de Waldeilson Paixão
Serviço / Lançamento
Um livro de crítica,
de Frederico José Correa
Bruno Azevêdo (org.)
Ensaios de Ricardo Leão e
Henrique Borralho
Domingo, 04/out, 18h30
FEIRA DO LIVRO DE SÃO LUÍS
(Praia Grande, Centro)
Mesa com Ricardo Leão,
Henrique Borralho e
Sebastião Moreira Duarte
(mediação: Bruno Azevêdo)
Contatos:
Bruno Azevêdo
98-98159.0200
fb/pitombalivrosediscos
Nenhum comentário:
Postar um comentário