Isolamento provocou a debandada de militantes e o partido fica menor. |
Um manifesto divulgado hoje anuncia o desligamento de expressiva
militância do PSTU em todo o Brasil.
Pelo menos 700 filiados deixam a legenda. Valerio Arcary e outros históricos assinam o documento,
publicado nas redes sociais (veja aqui)
A principal causa do rompimento foi a posição sectária da
maioria da direção partido no processo do impeachment.
No manifesto, os dissidentes defendem a unidade das forças
de esquerda. “Essa unidade na ação prática, na luta comum, passa hoje, em nossa
opinião, pela bandeira do Fora Temer, quer dizer, a luta contra o governo de
plantão e suas medidas. Sem a unidade dos movimentos sociais combativos em
torno a essa tarefa decisiva, corremos dois perigos. O primeiro é que o impulso
de todos esses enfrentamentos parciais se disperse, pela ausência de uma
estratégia geral comum. O segundo é que os combates específicos sejam
apropriados pela direção do PT em seu projeto de voltar ao poder com uma nova
candidatura Lula. Ou seja, a velha chantagem do mal menor”, detalha o
documento.
Fundado em 1994, a partir de uma ruptura com o PT, o PSTU
sofre um abalo com a retirada de um expressivo contingente de lideranças.
Os dissidentes propõem a construção de uma Frente de Esquerda e Socialista, reunindo movimentos sociais e partidos de inspiração marxista.
O manifesto também defende alianças com o PSOL e o PCB nas eleições de 2016.
No Maranhão, pelo menos a metade dos militantes deixa o
partido.
Veja o manifesto na íntegra (com os destaques do blogue em vermelho e amarelo):
“É PRECISO ARRANCAR ALEGRIA AO FUTURO!”
Manifesto de separação do PSTU e pela construção de uma nova
organização socialista e revolucionária no Brasil
Quem somos?
O presente manifesto é assinado por algumas centenas de
companheiras e companheiros que no passado fizeram uma aposta militante no
PSTU. Temos orgulho de ter dedicado o melhor de nossas forças para essa
organização, mas hoje vimos a público comunicar que esta experiência chegou ao
fim e que decidimos trilhar um novo caminho.
Pertencemos a diferentes gerações, somos veteranos e jovens,
mulheres e negros, LGBT's, professores e operários, petroleiros e estudantes,
ativistas e dirigentes sindicais da CSP-Conlutas e de sindicatos de base,
trabalhadores da saúde e do transporte, desempregados e intelectuais,
funcionários públicos e terceirizados. Há cerca de oito meses, começamos uma
batalha por nossas ideias dentro da LIT (Liga Internacional dos Trabalhadores) e
sua seção brasileira, o PSTU. Por meio deste manifesto, queremos expressar
nossas posições e as conclusões a que chegamos ao longo desse debate.
O que pensamos?
Acreditamos que as dificuldades enfrentadas pelos
revolucionários neste início de século 21 encontram sua explicação mais
profunda no impacto reacionário da restauração capitalista no leste europeu,
Ásia e Cuba. A ofensiva política, econômica, social, militar e ideológica do
imperialismo, os discursos sobre “o fim da história” e a adaptação da esquerda
reformista à ordem burguesa não passaram sem consequências. O movimento de
massas retrocedeu em sua consciência e organização. E os revolucionários
sofreram os efeitos desses anos de confusão e crise.
Mas a história não acabou. A crise econômica mundial de
2007-2008 abriu uma nova situação internacional marcada pela instabilidade e
pela polarização política, social e militar. Nesse marco, surgiram fenômenos
altamente contraditórios, como a Primavera Árabe, a crise econômica europeia, o
conflito militar na Ucrânia, a ascensão de partidos neo-reformistas como Syriza
e Podemos, a crise dos refugiados na Europa, o fortalecimento da direita em
várias partes do mundo, o declínio dos governos de colaboração de classes na
América Latina, o avanço do fundamentalismo islâmico e cristão, o ascenso da
luta antirracista, feminista e antilgbtfóbica no mundo inteiro, as jornadas de
Junho de 2013 no Brasil, a guerra civil na Síria, a crise do euro e da União
Europeia e tantos outros.
Assim, a nova situação mundial abre importantes perspectivas
aos socialistas. Mas é preciso saber atuar. Acreditamos que a postura dos
revolucionários diante da reorganização da esquerda deve ser firme, porém,
paciente. Porque o caminho da autoproclamação nos condenaria à marginalidade.
Porque sabemos que o isolamento, a condição de minoria e a luta contra vento e
maré durante tantas décadas deixaram em todos nós cicatrizes, reflexos
sectários que devemos ter a coragem de superar.
Pensamos que a simples apresentação de um programa
revolucionário não é o bastante para construir uma organização marxista. É
somente uma pré-condição. O decisivo é que esse programa seja ouvido, que
lutemos por ele em cada espaço, que ele seja compreendido e aceito pelas massas
e sua vanguarda. Não superaremos a marginalidade com um programa
ultraesquerdista, que os trabalhadores não estão dispostos a abraçar, ou que,
às vezes, nem sequer compreendem.
No
terreno da política nacional, por sua vez, as diferenças não foram menores. Há
mais de um ano vínhamos afirmando que era preciso enfrentar, com centralidade,
a política de ajuste fiscal do governo Dilma, mas combater também a oposição
burguesa que queria derrubá-la, apoiando-se em mobilizações reacionárias que
abriram caminho para o atual governo Temer. Para esta luta,
acreditávamos que era necessário construir a mais ampla unidade de ação com
todos os setores que estivessem na oposição de esquerda ao governo e, se
possível, dar a esta unidade uma forma organizativa: uma frente de luta ou campo alternativo ao governo
e à oposição de direita. Depois que a maioria da burguesia se unificou
em torno à proposta de impeachment, a partir de fevereiro de 2016, defendemos
internamente que era vital lutar contra esta manobra parlamentar, sem que isso
significasse, evidentemente, prestar qualquer apoio político a Dilma. Porque
avaliávamos que a derrubada do governo do PT só teria um sentido progressivo se
realizada pelas mãos da própria classe trabalhadora, por meio de suas próprias
organizações. Ao contrário, se liderada pela oposição de direita, a derrubada
de Dilma seria uma saída reacionária para a crise política; deseducaria os
trabalhadores em sua tarefa de autoemancipação.
A segunda hipótese foi exatamente a que ocorreu. Debatemos
estas e outras diferenças lealmente durante quase um ano. Não obstante, foi
atingido um ponto de saturação. As relações de confiança, portanto de
fraternidade, que são indispensáveis para uma militância lado a lado, deixaram
de existir ou foram fortemente abaladas pela intensidade da luta. Quando as diferenças
se fazem insolúveis, quando a possibilidade de síntese se esgota, quando as
discussões se tornam intermináveis e as polêmicas improdutivas, o perigo da
desagregação passa a ser maior que tudo.
Chegamos à conclusão que o prosseguimento do combate ameaçava
com uma ruptura abrupta, desorganizada e desmoralizante. Para preservar o maior
patrimônio de qualquer organização, seus militantes, optamos por encerrar a
luta e oferecer uma saída organizada para a crise. Deixamos o PSTU.
Reconhecemos o PSTU como uma organização revolucionária. Não pensamos que é
menos revolucionário agora do que antes. Mas nem sempre é possível aos
revolucionários pertencer a uma mesma organização. Apostamos na possibilidade
de uma separação amigável, e portanto exemplar, muito diferente das rupturas
explosivas e destrutivas que o passado tanto viu. Mantemo-nos, por isso, nos
marcos da Liga Internacional dos Trabalhadores, na qualidade de seção
simpatizante.
O que queremos?
Ao mesmo tempo em que nos desligamos do PSTU, reafirmamos
nossa disposição em continuar a luta pela revolução socialista em uma nova
organização nacional. Reconhecemos a ação consciente e organizada como a única
historicamente eficaz. Sobre a base do marxismo, da teoria leninista de
organização e de toda a experiência histórica do movimento operário e
socialista mundial, queremos construir algo novo. Admitimos sem soberba, com
sincera humildade e respeito, que não somos os únicos revolucionários no Brasil
ou no mundo. Somos um pequeno ramo da grande árvore do marxismo revolucionário
mundial. Reivindicamos as resoluções dos quatro primeiros congressos da III
Internacional; defendemos a teoria da revolução permanente e o Programa de
Transição de Leon Trotski; abraçamos a herança do trotskismo latino-americano
que teve em Nahuel Moreno seu principal dirigente e organizador; defendemos um
marxismo ao mesmo tempo rigoroso na utilização dos conceitos e aberto na
interpretação dos novos fenômenos; entendemos que o revolucionário é, em
primeiro lugar, um rebelde, e por isso o regime interno de uma organização
marxista deve se caracterizar tanto pela disciplina na ação, quanto pela ampla
liberdade de discussão, e que esses dois aspectos não são contraditórios, mas
sim complementares e inseparáveis.
Sabemos que a degeneração do PT alimenta uma saudável
desconfiança entre os lutadores jovens que não querem ser manipulados como a
vanguarda da geração anterior. Aos milhares, os ativistas se perguntam como
controlar suas próprias organizações. E têm razão! Porque o tempo da ingenuidade
e da credulidade nos líderes precisa ficar para trás. Queremos uma organização
em que não haja lugar para os arrivistas, os oportunistas, para aqueles que
querem obter vantagens e benefícios pessoais. Queremos entre nós os despojados
de pretensão, os desapegados de ambição, os desprendidos de vaidade.
A luta é aqui e agora. O maior desafio de nossas vidas, o
sentido de nossa militância, é a realização e o triunfo da revolução socialista
brasileira. A classe trabalhadora e o povo oprimido devem se elevar à altura do
combate que a história convoca. Treze anos de governos do PT demonstraram de
forma irrefutável que a estratégia de regulação do capitalismo através de
minúsculas reformas social-liberais conduziu o país a um desastre de proporções
catastróficas. A direção do PT é a primeira responsável pela tragédia que se
abate hoje sobre a classe trabalhadora brasileira. Lula e Dilma traíram um
sonho, enterraram-se a si próprios e abriram o caminho para Michel Temer e
Henrique Meirelles.
A verdadeira libertação dos explorados e oprimidos passa,
portanto, pelo combate à conciliação de classes promovida pelo PT e pela
retomada de uma estratégia de ruptura revolucionária da ordem. A crise e
posterior falência estratégica do PT, tão evidentemente demonstrada nas
jornadas de Junho de 2013 e no episódio do impeachment, colocam para a esquerda
marxista brasileira o dilema de sua própria crise, de sua própria
marginalidade, de sua própria fragmentação.
Os calendários eleitoral e sindical não comportam mais as
lutas que explodem por todos os lados. É preciso uma saída estratégica. É nesse
sentido que precisam trabalhar os marxistas revolucionários. Mas as lutas dos
explorados e oprimidos não podem esperar. Elas estão ocorrendo aqui e agora.
Para que elas sejam vitoriosas, precisam ser cercadas da mais profunda
solidariedade, em torno a elas deve ser construída a mais ampla unidade.
Essa unidade na ação prática, na luta comum, passa hoje, em
nossa opinião, pela bandeira do Fora Temer, quer dizer, a luta contra o governo
de plantão e suas medidas. Sem a unidade dos movimentos sociais combativos em
torno a essa tarefa decisiva, corremos dois perigos. O primeiro é que o impulso
de todos esses enfrentamentos parciais se disperse, pela ausência de uma
estratégia geral comum. O segundo é que os combates específicos sejam
apropriados pela direção do PT em seu projeto de voltar ao poder com uma nova
candidatura Lula. Ou seja, a velha chantagem do mal menor.
A maior tarefa da esquerda anticapitalista, portanto, é
abrir o caminho para outra saída política. E ela pode ser construída desde já.
Nenhum dos partidos e organizações da esquerda combativa pode hoje, por si só,
oferecer esta saída. Para ser efetiva, essa saída precisa ser construída de
fato por todas as correntes e organizações combativas do movimento social, por
todos que desejam sinceramente conformar esse campo alternativo da classe
trabalhadora.
Defendemos
a unidade deste terceiro campo também nas eleições municipais de 2016. Propomos
ao PSTU, ao PSOL, ao PCB, às organizações políticas que não possuem legalidade
e aos movimentos sociais a construção de uma Frente de Esquerda e Socialista,
com um programa de ruptura com os planos de ajustes que são aplicados por todos
os governos e prefeituras. Nos colocamos desde já a serviço dessas grandiosas
tarefas. Queremos, enfim, construir uma organização que resgate a grandeza e a
integridade do projeto socialista; uma organização que seja digna da memória
daqueles que vieram antes de nós e entregaram suas vidas na luta pela igualdade
social; uma esquerda revolucionária não-dogmática, avessa às poltronas de couro
dos gabinetes parlamentares e sindicatos, que priorize a luta direta das
massas, que dialogue com a ampla camada de ativistas surgida no último período,
capaz de influenciar verdadeiramente os rumos da luta de classes no país, de
inspirar confiança e esperança novamente.
O desafio é gigantesco, mas temos confiança que podemos,
como dizia o velho poeta Maiakovski, “arrancar alegria ao futuro”. É chegada a
hora de ousar. Mais do que nunca, é preciso lutar, é possível vencer. Os
assinantes do presente manifesto convidam também a todas e todos para o ato
nacional de lançamento da nova organização, que ocorrerá no dia 23 de julho,
sábado, na cidade de
São Paulo. Horário e local a confirmar.
Viva à unidade e à luta dos explorados e oprimidos do mundo inteiro! Viva à revolução! Viva ao socialismo!
2 comentários:
O único partido a prever e colocar o golpe em andamento desde 2012, foi o PCO. E ficam tentando esconder isto.
olá Samuel, você poderia aprofundar mais essa informação. mande um texto.
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